Toda vez que o nome Stephen King aparece em uma produção cinematográfica os cinéfilos de plantão já ficam de olho: vem aí uma nova história de terror com potencial de arrepiar os cabelinhos do braço. O que muita gente esquece é que Stephen King, além de ser conhecido como um dos maiores escritores de terror de todos os tempos, também é autor de um bocado de histórias sem pé nem cabeça, dentre ficção-científica, drama e suspense. Tendo criado dezenas de histórias, nem sempre ele acerta – que dirá as produções que se baseiam na sua imaginação. É o caso de ‘Boogeyman: Seu Medo é Real’, inspirado em um conto do mestre do terror e que estreou hoje nos cinemas.
King é provavelmente o autor mais adaptado ao audiovisual e sua carreira caminha lado a lado com o mundo do entretenimento visual. Dentre superproduções para os cinemas, filmes para o mercado de vídeo, séries televisivas, curtas-metragens e agora produções voltadas ao mercado de streaming, sejam filmes, seriados ou minisséries, Stephen King parece não sair dos holofotes, das mentes e da boca dos fãs.
É um fato impressionante o escritor continuar assustando as novas gerações, tendo feito isso muitas vezes com gerações mais antigas numa trajetória de mais de quatro décadas. Sim, vira e mexe alguma obra de King é redescoberta e ganha nova roupagem para os mais jovens, assim como livros e trabalhos recentes do escritor igualmente recebem oportunidade de brilhar. Para comemorar a estreia e esse artista que tanto adoramos, voltaremos às raízes de Stephen King, revisitando seus primeiros trabalhos adaptados para as telas, numa época em que o autor ainda não tinha o peso que possui hoje.
Dê asas à sua nostalgia e vem com a gente conhecer as 10 primeiras adaptações de Stephen King.
1) Carrie – A Estranha
Carrie marcaria com pé direito a entrada de Stephen King em Hollywood em 1976. O filme é a primeira adaptação de um texto do autor para as telas e foi também o primeiro livro publicado pelo renomado romancista. A obra literária foi lançada em 1974 e dois anos depois já era um filme de sucesso que, entre outras coisas, recebeu duas indicações ao Oscar de atrizes (Sissy Spacek e Piper Laurie). Aqui King já fazia críticas ao bullying e previa massacres em escolas – quando uma adolescente tímida sofre humilhação nas mãos das colegas de classe e resolve se vingar com seus recém-adquiridos dons telecinéticos (uma analogia à puberdade). Carrie ganhou uma continuação em 1999, uma minissérie em 2002 e uma refilmagem em 2013.
Esse foi o segundo livro escrito por King, cujo título original é Salem’s Lot, lançado logo no ano seguinte de Carrie, em 1975. Ao contrário de Carrie, levado aos cinemas por Brian De Palma, a adaptação da segunda obra do autor viu sua estreia no canal americano CBS, com produção da Warner Bros. Television, no formato de uma minissérie em dois episódios exibidos em 17 e 24 de novembro de 1979. Apesar do lançamento menor, na direção, um verdadeiro ícone do gênero: Tobe Hooper (O Massacre da Serra Elétrica). A trama guarda muitas semelhanças com o mais recente sucesso da Netflix, Missa da Meia Noite (2021), com o criador Mike Flanagan inclusive revelando a inspiração em King. Ou seja, fala sobre um escritor retornando para sua pequena cidade, somente para descobrir que os residentes estão se tornando vampiros. A história ganhou uma continuação na forma de um filme de 1987 e uma minissérie moderna em 2004 – um filme para os cinemas será lançado em breve.
Nas páginas, O Iluminado foi o terceiro livro escrito por Stephen King e seu maior sucesso então. A obra literária cimentava seu nome como autor do momento, inclusive entre os jovens. Lançado em 1977, o livro seria comprado pela Warner e desenvolvido na forma de uma superprodução a ser comandada por um nome de imenso culto na época: Stanley Kubrick, talvez o maior cineasta a ter reimaginado um livro de King. O que parecia ser o negócio do século para o escritor, terminou se mostrando um pesadelo para ele, quando o excêntrico cineasta resolveu mudar muito do texto de King, e há quem diga, inclusive melhorá-lo. O escritor não poupou palavras para deserdar essa adaptação, lançada em 1980, e quase vinte anos depois, em 1997, criaria sua própria versão. Que parece ter agradado zero apenas uma pessoa. O próprio King.
Até então as adaptações dos livros de Stephen King vinham mantendo certa ordem cronológica: a cada livro lançado, um filme era produzido para estrear alguns anos depois. Bem, ao menos com os três primeiros. O hiato começou com Rage, livro lançado no mesmo ano de O Iluminado (1977), sob o pseudônimo Richard Bachman (usado por King em alguns de seus primeiros trabalhos). Acontece que Rage fala sobre um adolescente armado matando professores num colégio e gerou todo um debate quando o triste fato começou a ocorrer de verdade, terminando com King banindo sua própria obra. Assim, a próxima adaptação viria apenas com o décimo livro do autor, que focava num tema mais ameno: um cachorro da raça São Bernardo que, ao adquirir raiva, passa a aterrorizar uma mãe e seu pequeno filho. Bem, digamos que um tema mais ameno para os padrões de Stephen King. O filme era lançado em 1983, dois anos após o livro chegar às lojas.
O ano de 1983 seria movimentado para Stephen King. Após o sucesso de suas primeiras adaptações e do hiato até o início dos anos 80 para suas obras voltarem a emplacar com os estúdios, 83 veria o lançamento de três textos de King nas telonas. O primeiro, como citado, foi Cujo (com distribuição novamente da Warner), sendo seguido por Na Hora da Zona Morta, produção de Dino De Laurentiis, distribuição da Paramount e direção de David Cronenberg – como dito, King era propriedade quente da época e seus textos atraíam grandes e promissores cineastas. O filme é baseado no sétimo livro de King, lançado em 1979. Aqui, Christopher Walken protagoniza como um professor de vida simples que se envolve num acidente de carro, fica em coma e quando acorda, volta com o estanho dom de visões do passado e futuro de todos que toca. O filme gerou uma bem sucedida série que durou cinco anos, de 2002 a 2007.
6) Christine – O Carro Assassino
O ano de 1983 fecharia as adaptações de Stephen King no cinema com Christine, da Columbia (Sony). Essa era uma ocasião importante, já que o livro era o 13º lançado pelo autor, o que para um especialista em terror é um número significativo (associado ao azar). No cinema, por outro lado, era a sexta produção audiovisual a ganhar forma. Depois de nomes como De Palma, Cronenberg, Hooper e Kubrick, mais um mestre se juntava à lista. Ninguém menos que John Carpenter, o pai de cults adorados como Halloween, Fuga de Nova York e O Enigma de Outro Mundo. A colaboração entre os lendários artistas teve como tema um carro possuído por maus espíritos, ou melhor, como fonte de obsessão para todos que o tem como donos. No fundo, uma nova trama sobre bullying e vingança. Uma nova versão vem saindo do forno pela Blumhouse.
Esse é um dos filmes menos conhecidos do primeiro lote de dez das obras de King. Trata-se do oitavo livro escrito por King, sobre o relacionamento entre pai e filha. A dupla, fugitivos de uma agência do governo que experimentava em pesquisas científicas com novas drogas. O pai, um voluntário, usou substâncias químicas que geraram em sua filha dons da pirotecnia (criar e controlar o fogo com a mente). No cinema, o sétimo filme de King foi lançado em 1984 e marcou pela presença da menina Drew Barrymore, recém-saída do sucesso E.T. – O Extraterrestre. Um remake da Blumhouse com Zac Efron está em fase de pós-produção.
No mesmo ano de 1984, estreava o oitavo filme baseado em Stephen King. A história não é baseada num livro do autor, mas sim num conto de 1977, presente na coletânea Night Shift, de 1978. O longa marca assim o primeiro conto de King levado às telas – ao invés de um romance completo ser usado como fonte – fato que viria a ser recorrente também nas transições do autor para as telas. Na trama, um culto de crianças, comandadas pelo ameaçador Isaac, mata todos os adultos de uma pequena cidade rural americana. Um casal, vivido por Peter Horton e Linda Hamilton, tem o azar de parar no local e se tornar alvo do culto fanático de pequenos homicidas.
Sabe aquele ditado do “e se a moda pega…”, bem ela pegou mesmo e na época estúdios estavam providenciando longas-metragens baseados não apenas nos livros de Stephen King, como também eu seus contos mais curtos de coletâneas. Isso apenas demonstra o quão em alta estava o nome do autor. Lançado no ano seguinte de Colheita Maldita, em 1985, Olhos de Gato marcou o primeiro filme baseado em King que contava também com roteiro do próprio escritor. O longa, composto por três histórias ligadas somente pela presença de um gato, é baseado nos contos contidos no livro Night Shift novamente. Mais uma vez, Drew Barrymore estrelava (numa das histórias) e o filme é dirigido por Lewis Teague, que havia comandado Cujo dois anos antes.
Finalizando as dez primeiras adaptações de King, o último item traz como base um livro diferente do autor. Bem, acontece que Cycle of the Werewolf, ou o ciclo do lobisomem, de 1983, é formado por uma história com começo, meio e fim, porém, a cada capítulo desta história temos um conto envolvendo um mês do calendário. O protagonista, no entanto, é o mesmo, um menino de 10 anos, cadeirante. King também adaptou o roteiro e o filme era lançado em 1985, com o título Silver Bullet (no Brasil A Hora do Lobisomem). Na trama, um lobisomem está aterrorizando uma então pacata cidade. Cabe a um menino e seu tio descobrirem sua identidade.