The Flash superar as expectativas e estar acima da média é como uma festa que estava ruim ficar boa faltando 10 minutos para acabar. Um respiro de diversão em meio a tantas produções sombrias, megalomaníacas e que se levam a sério demais, o filme solo do velocista da DC acabou vindo apenas no final dessa grande balada criada por Zack Snyder.
Sob direção de Andy Muschietti, The Flash realmente tem seus problemas, mas consegue alcançar o seu principal objetivo: divertir. Pouco conectado com o universo compartilhado e com o que já foi apresentado em filmes recentes do estúdio, o roteiro de Cristina Hodson foi buscar inspiração em Flashpoint, um dos quadrinhos mais tradicionais do herói mais rápido do mundo.
Deixando a trama contida, alterando aspectos da obra original para tomar certos rumos e enchendo o filme de referências nostálgicas, o gosto ao sair do filme é bem melhor do que a bomba que todos imaginavam que seria.
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Flashpoint, mas até onde?
O filme começa mostrando um Barry Allen que já está familiarizado com a vida de super-herói, tem em Bruce Wayne seu mentor e, na prática, seu chefe (igualzinho à relação Tony Stark-Peter Parker na Marvel).
Ansioso, depressivo, acelerado e cheio de responsabilidades, ele descobre que consegue correr rápido ao ponto de interferir no passado, o que obviamente tinha todo o potencial de dar errado.
A influência dos quadrinhos e da animação Flashpoint só vai até aí, além de uma ou outra referência visual. Não estar fielmente atrelado à fonte de inspiração é sempre uma ótima decisão criativa e, novamente, ela se fez acertada.
A explicação para o Flash viajar no tempo também é simples e não exige muito aprofundamento, assim como as consequências da tentativa de evitar a morte da sua mãe. A simplificação pode ser ruim para os ouvidos dos fãs mais ferrenhos, mas é um alívio para quem não suporta mais filmes de herói excessivamente explicativos.
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Efeitos especiais de centavos
A representação visual desse novo superpoder que envolve a viagem no tempo exige muita computação gráfica e não faz muito sentido se for parar para analisar, mas esse não é o seu principal defeito. O cenário é apenas feio demais para não chamar a atenção de forma negativa.
O ponto mais baixo de The Flash é justamente a parte gráfica, com CGI questionável e que prejudica alguns segmentos do filme.
Enquanto o efeito de dobra no espaço-tempo quando Flash começa a correr é uma das melhores adaptações feitas dos quadrinhos para o cinema, a cronosfera e a “transmissão” dos eventos passados e futuros quando o protagonista fica entre as dimensões é bizonha.
As perseguições e cenas de movimento conseguem transmitir perfeitamente as habilidades relacionadas à velocidade, mas as lutas são plastificadas, sem peso e fica complicado não imaginar que são bonecos brigando entre si. Em certos momentos, até cenas simples de transição deixam evidente o uso de chroma key.
Ficou bem abaixo da crítica e aqui não há como defender, sr. Muschietti.
Surpresas positivas
Apesar dos escorregões, The Flash supera a expectativa que fãs e críticos haviam criado após bastidores conturbados. Ezra Miller se envolveu em confusões graves, houve mais de uma troca de diretor e o roteiro foi reescrito, por exemplo.
Além disso, os lançamentos mais recentes da Warner/DC foram verdadeiros fiascos. A nuvem carregada sobre a cabeça de todos no projeto era um ponto de atenção, mas The Flash é surpreendentemente “gostável”.
Boa parte da qualidade do filme vem do apelo nostálgico, mas não apenas por ele existir. Para que as referências façam sentido, elas devem ser naturais e contribuir com o andamento da história, e Michael Keaton faz exatamente isso. Além de demonstrar uma grande boa vontade ao interpretar novamente o Homem-Morcego, ele tem uma interessante química com Ezra Miller.
Miller, inclusive, carrega o filme nas costas e é responsável por sequências engraçadíssimas, tanto sozinho quanto ao lado de seus colegas de elenco.
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A montagem da equipe do filme é outro ponto forte. Optar por heróis alternativos – ou versões paralelas daqueles do Snyderverso – aumenta a sensação de risco e a urgência das missões.
Supergirl não é uma arma imbatível, a tecnologia do Batman é avançada, mas datada, e o Flash tem seus poderes limitados.
A somatória desses fatores faz com que não saibamos até onde eles são imunes a absolutamente qualquer ameaça, como eram seus pares “desse universo”.
Quem diria que a leveza e a falta de compromisso e conexão com o universo compartilhado poderiam ser a chave para os grandes sucessos, não é mesmo? Depois de Esquadrão Suicida, The Batman e até mesmo a série do Pacificador, The Flash entra com facilidade no rol positivo do catálogo da DC no cinema.
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