Eu sofro de ansiedade crônica. Meu hipocampo, cheio de problemas interessantes por resolver, vive hiperativo, tocando todo tipo de alarmes, me lembrando de todas as coisas que eu ainda não fiz, mandando meu hipotálamo liberar energia, mandar ver no entusiasmo, tensionar todos os músculos e deixá-los prontos para a tarefa seguinte. Minha ansiedade não é do tipo negativo, que remói problemas que nem existem ainda. Minha ansiedade é proativa. Eu quero fazer o que eu ainda não fiz, e eu quero fazer agora para poder seguir adiante com a próxima tarefa.
O problema é que como cognitivamente meu cérebro está animadão e pronto para fazer acontecer, em vez de borocoxô e angustiado, eu não costumo me dar conta de que a dor na cabeça que me visita constantemente é bem capaz de ser um ataque de ansiedade —e pior, causado pelos meus próprios pensamentos.
Ou não me dava conta, até mês passado. Em pleno malabarismo entre vender uma casa, comprar outra, gerenciar móveis, livros, roupas, gatos, cachorros e namorado em três endereços diferentes, e ainda tentar trabalhar, eu me descobri sentada em frente ao computador sentindo o rosto doer. Levantei para ir ao banheiro… E a dor passou assim que eu cheguei no corredor. Voltei, e lá estava o rosto doendo de novo. Que diabos?
Foi então que a Neurocientista de Plantão, que por sorte está usando o controle da respiração como estudo de caso no curso de neuroanatomia este semestre, notou que, sentada ao computador, estava respirando só pelo peito, ou pelos ombros —e não pelo diafragma, como devia, e como pessoas não angustiadas respiram. Andar pelo corredor me forçava a respirar direito, e de quebra resolvia a dor. Sentar começava tudo de novo, e a dor voltava.
Parei para consultar meus alfarrábios mentais e me informar. De fato, lá está: um achado comum de crises de ansiedade é a respiração curta, superficial, acompanhada de dor. O problema pode começar com dor vinda de outras causas, que torna a respiração superficial e rápida, o que envenena o corpo com gás carbônico e sufoca os músculos, que então doem mais ainda. Mas também pode começar com ansiedade, que, se torna a respiração superficial e rápida, dá na mesma: dor, que gera mais dor, que se autossustenta.
A beleza, contudo, é que a segunda situação é facilmente consertável porque a respiração, mesmo gerada automaticamente pelo cérebro, também aceita intervenções conscientes. Quando a dor é inteiramente causada pela ansiedade, tomar as rédeas da respiração e forçar a inspiração lenta e profunda pelo diafragma pode mudar tudo. Não é difícil: pense no seu umbigo, e pense em abaixá-lo enquanto você enche o peito de ar, pelo nariz. Faça isso devagar, depois passe ao menos tanto tempo soltando o ar aos poucos pela boca —e repita. A parte do cérebro que deixa o corpo tenso imediatamente relaxa. E se isso não for suficiente, tem uma farmácia na esquina, e um médico do outro lado do seu telefone. A solução está ao seu alcance.
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