Seja no 4-2-4 ou no 5-3-2, atravs de jogo de posio ou jogo funcional, respeitando as diversas formas de ver o futebol. Acreditando sempre na beleza do jogo, e nas diversas interpretaes do mesmo. Falo de ttica tentando fugir do professoral, mas sempre buscando ir alm. Como em uma conversa de bar. Sem espao para a saideira.
Portugal respira novos ares. A campanha nas Eliminatórias, sob o comando de Roberto Martínez, indica isso. Nem tanto pelos resultados. Mas pelos conceitos aplicados pelo técnico espanhol, que se afastam, cada vez mais, do que era proposto por Fernando Santos.
Uma frase, dita por um torcedor português após a vitória sobre a Eslováquia, por 3 a 2, no Dragão, diz um pouco sobre esse momento: “é tão bom ver futebol sem precisar fazer contas”. A seleção portuguesa garantiu classificação antecipada para a Euro, faltando ainda três rodadas a serem jogadas. A média de gols marcados nos sete primeiros jogos foi de 3,86 por jogo, com sete vitórias. A de sofridos, apenas 0,29 (a defesa passou os seis primeiros jogos sem ser vazada).
Como defendi, os números dizem pouco. Mas para trazer contexto ao assunto, vale lembrar que com Fernando Santos, Portugal venceu os sete jogos das Eliminatórias para a Euro de 2016 por um gol de diferença, quatro deles por 1 a 0. No título da Euro, foram apenas três vitórias na campanha, duas delas por 1 a 0, uma delas a final contra a França. Na Copa de 2018, a única vitória foi por 1 a 0. A final da Nations League de 2019, contra a Holanda, no Dragão, foi por 1 a 0.
Na Euro de 2020, um 3 a 0 sobre a Hungria, e na Copa de 2018, os 6 a 1 diante da Suíça, são raras exceções de um repertório ofensivo pobre ao longo dos anos, marcado pelo “pragmatismo”. Média de 2,07 gol/jogo. Mas como disse, os números dizem pouco. Vamos além.
Como joga Portugal com Martínez
Fernando Santos, preferencialmente, adotava o 4-3-3 ou 4-2-3-1, com posições bem definidas e o uso, com frequência, da ligação direta para avançar no campo. Na última Nations League, teve uma média de 44 lançamentos longos por partida. Era uma postura reativa, apesar da qualidade do elenco com a posse de bola. Assim, porém, os lusos foram campeões da Euro. E da Nations. Não há uma forma certa ou errada de jogar. Há gostos e propostas para atingir um objetivo: vencer.
Martínez, portanto, vem um pouco como contraponto a Santos. Se aproxima mais do jogo funcional, com posições menos fixas. Depende mais da partida, das situações que se apresentam, das decisões e das escolhas do jogador mediante aos problemas que o jogo impõe.
Se formos pegar uma formação base, apesar de já ter usado o 3-4-2-1 que tinha como padrão tático mais comum na Bélgica, de ter, também, optado pelo 4-3-3 e pelo 4-2-3-1, Roberto Martínez achou uma saída interessante no 4-1-3-2 que mandou a campo contra a Eslováquia.
Pegando esse jogo como base, já que está na nossa memória recente e apresenta princípios básicos da ideia de jogo do espanhol, Portugal buscou uma saída sustentada no 2 + 1, com os dois zagueiros fazendo a primeira fase de construção com o apoio frontal de Palhinha. Dalot, atuando como lateral invertido na canhota, dava opção mais por dentro, enquanto Cancelo dava amplitude do outro lado. A saída, preferencialmente, era feita para o jogo fluir pelo flanco direito.
Primeira fase de construção portuguesa no 2 + 1
O jogo funcional de Martínez, que dá liberdade posicional aos atletas em campo dependendo da situação que se apresenta, pôde ser observado, também, nas movimentações de Bruno Fernandes e Bernardo Silva. Os meias flutuavam livres, geralmente em apoio ao setor direito.
Bruno, Ronaldo, Cancelo e Bernardo buscando superioridade numérica na direita
Bernardo tinha como tendência aparecer mais aberto na direita, para criar superioridade numérica no setor com Cristiano Ronaldo, Cancelo e Bruno Fernandes apoiando mais por dentro. Quando CR7 abria mais pela direita e atraía a marcação, Bruno atacava esse espaço no meio.
Bruno atacando, pelo meio, espaço deixado por Ronaldo
Na canhota, Dalot, lateral invertido, atuou mais centralizado buscando fechar o meio, enquanto Leão, na ponta, usa muito o 1 contra 1, jogada em que é muito forte. É a busca por uma superioridade qualitativa. Gonçalo Ramos aparecia para, também, criar linhas de passe e buscar triangulações por ali.
Com jogadores perto, iniciando em uma saída sustentada, avançando em triangulações e buscando finalizar as jogadas por dentro, Portugal conseguiu envolver a Eslováquia, conseguindo 25 finalizações, 12 delas no alvo. A vitória, por 3 a 2, poderia ter sido mais tranquila. A transição defensiva, postada em 4-1-4-1, careceu intensidade na segunda parte. Sem combatividade principalmente no corredor central, permitiu a Eslováquia finalizar de fora da área e ter a chance de somar um ponto no Porto. Por pouco não o fez.
A busca atual é por equilíbrio. Mas o time já mostra uma nova cara. Novos conceitos. Uma nova maneira de buscar a vitória. Sem precisar fazer contas. Aproveitando melhor as características do plantel. E provando, contra a Eslováquia, que Ronaldo, até a próxima Euro, ainda pode ser importante, atuando ao lado de Gonçalo. E que Félix também pode atuar com o atacante do PSG sem que Leão precise sair do time. Repertório tático, e técnico, dão aos portugueses a esperança de celebrar títulos de uma nova maneira.