Em 2010, a casa do ator Bob Odenkirk foi arrombada. Na ocasião, ele não reagiu à situação, mas depois ficou martelando sobre ir atrás das pessoas e se vingar. A vingança ficou apenas no mundo das ideias. Conhecido por seu papel como Saul Goodman/Jimmy McGill em “Breaking Bad” e seu spin-off “Better Call Saul”, Odenkirk transformou o trauma passado em um projeto de filme. A coisa toda tomou forma e virou “Anônimo”, longa-metragem escrito por Derek Kolstad e dirigido pelo cineasta russo e frontman da banda Biting Elbows, Ilya Naishuller.
O enredo do filme gira em torno de Hutch Mansell (Odenrkirk), um trabalhador comum na faixa dos 50 anos e pai de família que mora no subúrbio e tem a casa invadida por uma dupla de ladrões durante a madrugada. Um homem taciturno e indolente, ele vê os criminosos baterem no seu filho e não reage. Após o ocorrido, o adolescente demonstra indignação pela atitude covarde de seu pai. A esposa, que já não demonstra interesse por ele há um tempo, se afasta ainda mais. A situação o faz refletir sobre como tem levado sua vida e sobre como as pessoas o enxergam.
Então, ele decide investigar quem foram as pessoas que entraram na sua casa. Após descobrir, ele para na casa da dupla e se desaponta com as respostas que encontra. Em um ônibus, um grupo de criminosos o aguarda. Com uma explosão de raiva engatilhada desde a invasão à sua casa, Hutch destrava algumas habilidades para briga que estavam profundamente enterradas dentro dele.
Durante uma sequência inebriante de luta, desvendamos junto com o protagonista sua aptidão para a violência. Com uma coreografia que não o coloca como invencível, mas usa suas limitações físicas para explorar sua humanidade, o filme inteligentemente arquitetado diverte e deixa o público engajado com as sensações de seu personagem. Carregamos a tensão e a certeza de que nosso herói não é superior aos seus inimigos, mas vai lutar até a última gota de suor. Durante a luta, ele acaba matando o irmão de Yulian (Aleksey Serebryakov), um chefão da máfia russa, que vai mobilizar toda sua horda de criminosos contra Hutch. A situação desembocará em uma batalha épica por sobrevivência.
Comparado com John Wick, mas também uma mistura de “Dia de Fúria” com “Breaking Bad”, “Anônimo” não é particularmente original ou imprevisível, mas é um refresco para os olhos. Principalmente por Odenkirk parecer muito mais relacionável que Keanu Reeves, por exemplo. Ele é tão normal e mediano que sentimos que seu Hutch poderia ser qualquer um de nós.
Aos poucos a vida mais profunda do protagonista é delineada em curvas mais claras. Seus caminhos hostis o reúnem com o pai, David (Christopher Lloyd), um agente do FBI aposentado, e seu irmão adotivo, Harry (RZA), que enfrentarão o bando todo corajosamente e com poucos, mas eficientes, recursos bélicos.
Um Pulp cheio de tensão, ultraviolência e dinamismo, “Anônimo” arrancou elogios da crítica e a admiração do público. Realmente é um filme carismático sobre o despertar de um homem de classe média adormecido em sua zona de conforto. Também um filme de vingança. Mas, especialmente, sobre sair do superficial e encontrar dentro de si quem realmente é.
Filme: Anônimo
Direção: Ilya Naishuller
Ano: 2021
Gênero: Drama/Policial/Ação
Nota: 8/10