Parece óbvio, mas para cada filme há um público específico, ainda que não sejam poucos os filmes que, aparentemente segmentados, avancem sobre essa pretensa regra e subvertam-na sem dó. Scott Wiperpode até não ser o primeiro nome que vem à cabeça do espectador quando se precisa mencionar um ou dois filmes do cinema macho, mas o acervo do diretor é dos mais primorosos do gênero.
“Os Condenados” tem muito dos cacoetes habituais dessas tramas; no entanto, Wiper encontra formas perspicazes quanto a contornar lugares-comuns numa história, goste-se ou não, das mais inventivas em produções que tais. Aqui, as angústias mais severas de um homem passam por mero número de um espetáculo hediondo, sinistro, que ganha cores ainda mais aterrorizantes uma vez que não lhe resta escolha senão admitir que seu amor-próprio é menos importante que sua liberdade. É uma decisão penosa, a exemplo de outras tantas que se deve fazer ao longo de uma vida, mas a recompensa está à altura.
A tal bomba de que falava Hitchcock permanece sob a mesa por uma eternidade. Enquanto isso, o roteiro de Wiper e Andy e Rob Hedden prepara o espectador para sutilezas incômodas, como militares em fardas muito semelhantes à do exército de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), grades que se abrem e se fecham num estrépito e homens bestializados a se enfrentar diante de câmeras ocultas. Menciona-se um certo José da Guatemala como o prisioneiro que deve substituir o árabe que morreu no plantel de criminosos que lutam para saciar o apetite de ricaços por um entretenimento doentio, e aos poucos, se conhece a história de Jack Conrad, cumprindo pena por assassinato numa penitenciária da América Central.
Valendo-se de sua vasta experiência quando dava as cartas nos ringues mundo afora como lutador de wrestling, Steve Austin, o Stone Cold(“pedra fria”, em tradução literal), estrela sequências de confronto físico bastante realistas, malgrado não sinta a necessidade de mover um músculo ainda que diante de rivais também ameaçadores, a exemplo de Ewan McStarley, o sociopata expulso das Forças Especiais dos Estados Unidos vivido por Vinnie Jones, um ex-atleta que fez história no futebol britânico.
O argumento central, desenvolvido com mais cautela quando da virada do primeiro para o segundo ato, adquire um tom distópico com a entrada em cena de Ian Breckel, a mente por trás do reality show que reúne dez homicidas cruéis, oito homens e duas mulheres, numa ilha de difícil acesso — todos, por uma alguma razão sobre a qual o texto de Wiper e dos Hedden não se debruça, encarcerados em nações periféricas. Robert Mammoneconfere ao enredo alguma substância dramática ressaltando a desumanidade do vilão ao exigir de seus subordinados bons índices de audiência com um furor implacável, ao passo que eles se lançam num combate de vida ou morte, mais e mais repulsivo. Num movimento paralelo, Wipererige uma subtrama meio artificiosa envolvendo o personagem de Austin e uma namorada que não leva à parte alguma.
Típico filme pipoca, feito sob medida paraabreviar momentos de tédio, “Os Condenados” ensejou uma continuação em que a vida se mantém como um jogo em que a única regra é jogar. Se há algo de verdadeiramente bom aqui, é a reafirmação da inutilidade de certos programas de televisão, cirúrgicos em extrair da alma humana só o que deveria ficar relegado ao olvido sem fim e ao silêncio eterno para sempre.
Filme: Os Condenados
Direção: Scott Wiper
Ano: 2007
Gênero: Ação
Nota: 7/10