O Ministério da Saúde prevê para o próximo sábado (2) um dia de mobilização nacional para reforçar as ações de combate ao vetor do mosquito da dengue. De acordo com a pasta, 75% dos focos do Aedes aegypti estão dentro dos domicílios. Por isso, a iniciativa deve ser concentrada em campanhas educativas e visitas porta a porta de agentes de saúde.
O Brasil vive uma epidemia de dengue. A taxa de incidência da doença, de 501 por 100 mil habitantes, coloca o país nesta condição.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, promover o engajamento da população e ensinar como eliminar os focos dos mosquitos são medidas fundamentais para controlar a transmissão da doença, mas que dias de mobilização como os propostos pela pasta têm potencial limitado e de curto prazo.
Para o sanitarista Claudio Maierovitch, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Brasília e vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), a campanha nacional tem o potencial de chamar a atenção da sociedade e de gestores locais para abordar o problema, mas a efetividade da medida em um contexto de epidemia já disseminada é reduzida.
“Já temos muitos mosquitos procriando e infectados com o vírus. É difícil atingir aquilo que poderíamos obter com uma ação planejada e iniciada antes”, diz Maierovich.
O sanitarista afirma que a vacina contra a dengue só terá resultados no futuro, quando for amplamente distribuída. Outras estratégias possíveis, mas que dependem de investimento e planejamento, são a adoção massiva de tecnologias como armadilhas disseminadoras de larvicidas e a modificação de mosquitos para que não se infectem com o vírus da dengue, segundo o médico.
“É preciso que o mapeamento dos locais de maior risco de concentração de mosquitos seja feito continuamente, de modo a concentrar essas ações onde o problema é maior”, acrescenta Maierovitch.
Segundo painel de monitoramento do governo, o país já registrou 991.017 casos prováveis de dengue e 207 mortes confirmadas pela doença em 2024. Sete unidades da federação e 154 municípios brasileiros já decretaram situação de emergência devido à situação epidemiológica.
Nesta quarta-feira (28), a ministra Nísia Trindade se reuniu com secretários estaduais de saúde para articular a campanha e estimulou a participação de autoridades em conversas com a população. O “Dia D” também deve ter a veiculação de mensagens de conscientização em diferentes mídias.
No estado de São Paulo, a iniciativa será antecipada para a sexta-feira (1º) para incluir atividades de orientação nas escolas públicas. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, serão realizados debates em sala de aula sobre as medidas preventivas e importância da eliminação de criadouros.
A Defesa Civil estadual e o Exército também serão mobilizados para fazer varreduras na região em busca de focos do mosquito e orientar a população de casa em casa. A mesma estratégia deve ser adotada em municípios do interior.
Para a epidemiologista Alexandra Boing, professora da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e coordenadora da comissão de epidemiologia da Abrasco, ainda que a mobilização comunitária seja altamente necessária hoje, ela não atinge os fatores estruturais que perpetuam a dengue como problema de saúde pública no Brasil.
“O Brasil não reduziu a prevalência de tabagismo nas últimas décadas apenas pedindo para população não comprar cigarros, tampouco reduziu acidentes de trânsito e melhorou indicadores de saúde materno infantil apenas com campanhas de conscientização”, afirma Boing. “Precisamos romper o ciclo reativo e criar um futuro traçado em investimento na prevenção e inovação”.