Não é novidade que a prática regular de atividade física contribui para a prevenção de uma série de doenças crônicas não transmissíveis, entre elas diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer, além de reduzir o risco de eventos cardiovasculares, como infarto. Movimentar-se também é essencial para a prevenção de sobrepeso e obesidade, um problema cada vez mais comum entre crianças e adolescentes no mundo todo.
Em 2018, a OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou o plano global Let’s be active (Vamos ser ativos) para estimular a prática de exercícios e reduzir a prevalência do sedentarismo entre adolescentes e adultos em 10% até 2025 e em 15% até 2030.
Em relação à obesidade infantil, o Ministério da Saúde aponta que 12,9% das crianças brasileiras entre cinco e nove anos têm obesidade, assim como 7% dos adolescentes na faixa etária dos 12 aos 17 anos.
Mas escolher a melhor atividade física para os filhos nem sempre é uma tarefa simples. Muitos pais ficam em dúvida sobre qual exercício é o mais recomendado para a criança e, às vezes, acabam impondo a prática de esportes que eles gostam, sem levar em consideração o gosto dos pequenos.
“A melhor atividade física para a criança é aquela de que ela gosta”, resume o ortopedista pediátrico Nei Botter Montenegro, da Clínica de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas de São Paulo. Para que isso aconteça, a criança precisa ter contato com o máximo de opções possíveis.
Para meninas, atividades terrestres
Segundo Montenegro, as meninas devem ser incentivadas desde pequenas a praticar atividades físicas terrestres para melhorar o ganho de massa óssea e, com isso, evitar osteoporose na idade adulta. Isso porque elas terão uma vida hormonal mais curta que a dos meninos.
“Pode ser dança, algum esporte de quadra ou o que quiser. Isso é necessário porque existe um ganho de massa óssea proporcional à atividade que a criança fizer”, explica o ortopedista.
Alongamentos ajudam a evitar lesões
Outro fator importante para atividades físicas e esportivas em crianças e adolescentes é a prevenção de lesões. Estatisticamente, a ginástica artística, o atletismo e as lutas marciais são as modalidades com maior número de lesões, segundo Montenegro. Machucados também são frequentes em esportes com maior impacto ou contato físico, caso de futebol, boxe, handebol e basquete.
A principal recomendação para evitar lesões é fazer o aquecimento muscular por pelo menos dez minutos antes do início das atividades esportivas, assim como o alongamento.
“O alongamento é fundamental e muitas crianças e adolescentes não o fazem antes de começar uma atividade. Muitas vezes, os próprios educadores físicos não avaliam a necessidade disso”, alerta o ortopedista.
O médico também faz um alerta sobre os excessos, que podem levar ao aumento de lesões. De acordo Montenegro, se os esportes forem somente por lazer, sem competição, não existe limite de dias ou horas para a prática. Mas, se a criança ou o adolescente estiver treinando para ser um atleta, a recomendação é manter uma frequência de, no máximo, três treinos por semana, acrescidos por um dia de competição, com intervalo de um dia entre eles para a recuperação física.
E a musculação?
Outra dúvida comum dos pais é sobre a prática de musculação. Segundo Montenegro, adolescentes podem fazer esses exercícios, mas sempre com supervisão de um profissional de educação física, após a realização de alongamento e, preferencialmente, apenas com o peso do corpo.
“A criança e o adolescente estão em fase de crescimento. Eles possuem algumas porções dos ossos chamadas apófises, que são áreas de crescimento onde o osso está aumentando para receber músculos fortes. Nessas áreas, existe uma chance maior de lesão”, frisa.
O ideal para cada idade
Veja as atividades mais indicadas por faixa etária:
De zero a 2 anos: nessa fase, o bebê está em pleno desenvolvimento neuromotor. Ela começa a andar entre nove e 18 meses (em média, aos 12 meses), mas ainda não fará atividade esportiva. A escolha da modalidade deve ser baseada priorizando o desenvolvimento individual, com caráter lúdico, como uma brincadeira. Um bom exemplo é colocar o bebê de barriga para baixo e estimulá-lo a rolar ou fazer aquela antiga brincadeira “serra, serra, serrador, serra o papo do vovô”.
A natação para bebês pode ser iniciada antes do primeiro ano de vida, mas não como esporte e sem a pretensão de que a criança nade. Importante: sempre com supervisão dos adultos.
Dos 2 aos 5 anos: nessa fase, as crianças começam a desenvolver pequenas habilidades: aprendem a correr, pular, brincar de pega-pega e esconde-esconde. Em geral, já frequentam a escola e começam a praticar aulas mais regulares, como judô e balé. Apesar de ainda terem a habilidade motora limitada (com reações de equilíbrio pouco definidas), o aprendizado acontece por erros e acertos.
“Por exemplo: a criança não entende as regras para jogar futebol, mas ela entende que precisa chutar e correr atrás da bola. Nessa idade ela compreende instruções simples, mas sempre com aspecto de brincadeira”, explica Montenegro. Ele ressalta que o ideal é enfatizar as habilidades fundamentais da criança, evitando a competitividade e priorizando o desenvolvimento individual.
Crianças de 6 a 9 anos: ocorre a melhora do equilíbrio e das reações automáticas. Segundo Montenegro, os esportes praticados com regras flexíveis são mais bem aceitos, o que permite a prática no tempo livre das crianças, com poucas instruções e mínimo de competição.
Começam a ser indicadas escolinhas de futebol, esportes de quadra, judô e natação.
Crianças de 10 a 12 anos e adolescentes: a habilidade motora melhora, e a criança desenvolve estratégias em grupo para praticamente todos os esportes coletivos de quadra, tênis, artes marciais e outras modalidades. É nessa fase que ela entende melhor as regras do jogo e a tática (como em que lugar deve ficar no campo para receber a bola e atingir o objetivo do jogo).
“A criança passa a compreender a função dela num time. Como ela já foi exposta a várias atividades, nesse momento ela vai, talvez, escolher um esporte para se dedicar e se especializar, de acordo com seu gosto e seu desempenho”, afirma o médico.