“Lá vem a galera do arrastão. Onde já se viu correr em bando na rua?”
Assim eu classificava o grupo de atletas que passava pela porta de casa, saídos de uma academia de crossfit (box, para os mais íntimos), com certa frequência.
Eu achava estranho e sentia, admito, vergonha alheia. Só que estava ali, metendo o bedelho no esporte alheio, enquanto o único movimento que eu fazia, efetivamente, era pagar a mensalidade de uma academia que mal ia. “É tão perto de casa… quem sabe, né?”.
Juntei cara e coragem e fui à aula teste. Veio a primeira humilhação: por que ninguém avisou que precisava falar inglês? Box jump (pular na caixa), wall ball (jogar a bola na parede), handstand push-up (esse eu nem traduzo; deixo para o leitor se divertir). Por que o professor –opa, o coach– não fala num bom e claro português?
A segunda humilhação foi descobrir que o aquecimento (aquele em que eu quase morri) era… o aquecimento. É agora que vai começar o treino pesado? Como assim?
Chegar atrasada? Nem pensar. A aula começa pontualmente e quem vai depois precisa pagar pedágio –os famigerados burpees, ou flexões com salto– para continuar.
Daí em diante foi ladeira abaixo. Um sem fim de movimentos que não conseguia concluir e pesos que não conseguia carregar. Uma queda no primeiro mês de treino que resultou numa fratura no cóccix (por erro meu, que não ouvi o professor e teimei que conseguia). Bolhas e calos.
Pensei em desistir, mas como toda taurina teimosa, segui. Fui voltando e voltando. Não todos os dias, mas vira e mexe. E quando vi, estava mais no mexe do que no vira.
Antes que se pergunte: não virei atleta profissional nem superei os movimentos mais complexos (ainda não faço boa parte, aliás). Mas enxerguei corpos de todos os tamanhos se movimentando. De diferentes idades.
Vi pessoas se desafiando, vibrando com o avanço do colega e ajudando quem, assim como eu, não sabia nem por onde começar. Pais e mães levando seus filhos, sempre convidados a participar do treino. Do sedentário ao “sarado”, todos praticando o mesmo exercício, em maior ou menor grau de dificuldade.
Senti a disposição melhorar, passei a subir escadas sem ficar estafada e, pela primeira vez em muitos anos, cessei uma dor contínua que tinha no ombro esquerdo, reflexo da tendinite. O principal: associei o exercício à terapia, o que tem ajudado a segurar muitas barras.
Agora estou aqui, convertida à seita dos que pagam para correr na rua.
E os R$ 3,50? Foram de quando esqueci de levar minha garrafa d’água no treino. Peguei uma na geladeira da academia. Sem cartão, avisei que pagaria no dia seguinte. Esqueci e bloquearam meu acesso à catraca.
Porque sim, o crossfit é rígido. Não importa o quanto você se supere, ele desafia a tentar mais. O treino tem fama de militar, mas militar, mesmo, é aprender a ter disciplina. Não ouse se atrasar.