A queda nos preços dos combustíveis ajudou a inflação ao consumidor no Brasil a se aproximar da média das maiores economias desenvolvidas
EDUARDO CUCOLO
SÃO PAULO, SP
A queda nos preços dos combustíveis ajudou a inflação ao consumidor no Brasil a se aproximar da média das maiores economias desenvolvidas e emergentes, algo que não ocorria há dois anos, segundo levantamento do banco UBS BB.
O país ainda sofre, no entanto, uma forte pressão dos preços de bens industriais, e a inflação de serviços também ressurgiu como fator de preocupação, após dois anos rodando abaixo da média de 13 economias analisadas pela instituição financeira. Entre elas, EUA, Zona do Euro, México, Índia, Rússia e Chile.
Desde julho de 2020, a inflação acumulada em 12 meses no Brasil se mantém acima da média dessas economias. Somente em abril deste ano essa diferença começou a cair de forma consistente. Depois de chegar ao pico de 5,62 pontos percentuais em setembro do ano passado, estava em 0,92 ponto em julho deste ano.
A expectativa do UBS BB é que o IPCA (índice de preços ao consumidor) retorne a essa média até o final de 2022. Com isso, depois de terminar 2021 com a maior inflação nesse grupo, o Brasil deve ficar à frente apenas do Canadá e próximo de EUA e África do Sul neste ano.
No ano passado, boa parte dessa diferença foi explicada pelos preços de energia elétrica e combustíveis, que atualmente estão abaixo dessa média, após o fim da bandeira de escassez hídrica, com a cobrança adicional na conta de luz de consumidores e empresas, e medidas adotadas pelo governo para reduzir o preço de combustíveis e os tributos sobre esses itens durante o período eleitoral.
Os alimentos estão entre os vilões da inflação brasileira desde 2020, mas hoje estão em linha com a média dos países analisados. A expectativa do mercado é uma desinflação desses itens, na esteira da desvalorização recente dos preços de commodities como soja, trigo e milho. Internamente, no entanto, o item ainda pesa no orçamento do brasileiro, principalmente dos mais pobres.
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Um terceiro componente dessa inflação mais elevada foram os bens, que atualmente são os principais responsáveis por um IPCA ainda mais elevado por aqui, embora essa diferença tenha parado de crescer.
A inflação de serviços, que ficou abaixo da média por cerca de dois anos, agora começa a chegar de forma mais forte no Brasil.
“Os vilões [da inflação] foram alimentos e energia. Agora, vão ser os grandes heróis para deixar a gente melhor do que o resto”, afirma Alexandre de Ázara, economista-chefe do UBS BB.
Em apresentação recente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostrou que o Brasil tem a menor inflação de energia entre dez economias que também estão na amostra do UBS BB. Ainda tem preços mais elevados de alimentos do que México, África do Sul e Índia. E está entre os maiores índices de inflação entre emergentes quando se considera apenas bens e serviços. Por isso, ele avalia que ainda não é hora de cortar os juros.
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Em 2021, os bens industriais foram os itens que mais contribuíram para a inflação no Brasil, como apontado pelo BC na carta em que justificou o estouro da meta daquele ano, destacando a alta dos preços de veículos novos e usados e dos eletroeletrônicos.
Nos dois primeiros anos da pandemia, houve aumento na procura por bens industriais, queda na oferta e problemas de suprimento de insumos e aumento no custo de produção. No Brasil, a situação foi agravada por fatores como depreciação do câmbio, energia elétrica mais cara e distância dos mercados produtores.
André Braz, coordenador-adjunto do Índice de Preços ao Consumidor da FGV, afirma que o país sofreu mais com os gargalos da cadeia produtiva mundial. Ele também cita como exemplo a falta de chips para fabricação de veículos, que elevou os preços de automóveis novos e usados.
“Em outros países, esses gargalos foram resolvidos mais rapidamente. Para a gente durou mais”, afirma Braz.
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O economista-chefe do UBS BB avalia que a normalização dessa situação deve contribuir para uma queda mais forte da inflação no Brasil em relação a outras economias. “Todo mundo queria comprar bens, tivemos problemas de cadeia produtiva, os preços subiram. EUA e Brasil foram os que mais sofreram. Agora começou a normalizar nos EUA e vai normalizar no Brasil”, afirma Ázara.
Dados coletados pela OCDE mostram que o Brasil tinha a terceira maior inflação ao consumidor entre 44 países em julho de 2021. Com o dado esperado para agosto, em torno de 8,5% em 12 meses, deve ficar próximo da 25ª posição, ao lado dos EUA, e terminar o ano nesse patamar
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