Acostumado a ter o dinheiro contado para o pagamento das contas mensais, o trabalhador que recebe a primeira parcela do 13º salário agora em novembro pode ter a (falsa) sensação de “estar rico”. Antes de sair gastando tudo como se não houvesse amanhã, que tal usar a razão e desembolsar essa grana extra de forma inteligente?
Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira), diz que, como o fim do ano já é uma época de aumento de gastos, por conta das festas de Natal e Ano Novo e, em alguns casos, das viagens de férias, deve-se considerar essas despesas na hora de usar o salário extra. “É preciso olhar para a vida financeira de forma consciente, respeitando o padrão de vida da família”, aconselha.
Domingos, que também é PhD em educação financeira, afirma que 2022 chega ao fim exigindo um cuidado maior com as finanças pessoais. “É importante entender que o 13º salário foi criado para ser uma gratificação de fim de ano, algo a ser recebido pela população como um presente”, diz. Ele conta que muita gente costuma usar o dinheiro extra para quitar pagamentos em atraso, mas que há consumidores que começar novas dívidas, “uma evidência de que gastam mais do que sua renda permite”.
“Sempre defendo que esse dinheiro não deve ser usado para pagar dívidas, mas em uma situação atípica como a atual é, sim, válido usar desse artifício”, comenta o educador. Ele alerta para a necessidade de se fazer um bom planejamento. “Usar o 13º com inteligência é, neste ano, uma fórmula mais complexa do que nunca, e depende de muito cuidado e análise”, fala o presidente da Abefin, que sugere uma reunião de toda a família para a decisão sobre a melhor maneira de gastar o dinheiro.
Além disso, ele dá três ideias para quem ainda não sabe o que fazer quando o 13º salário cair na conta:
(1) Pagar dívidas: “O dinheiro extra não deveria ser utilizado para isso, afinal de contas, o correto é planejar e ter compromissos financeiros que caibam no orçamento mensal, mas, como já foi dito, neste ano se abre uma exceção. Antes de sair correndo para acertar as contas, é preciso entender o que e quanto se deve, qual o real ‘fôlego’ para a negociação e quem são os credores”, ensina Domingos.
Ele afirma que é preciso ter cuidado na hora de fazer acordos, pois muitas vezes o devedor acaba aceitando uma proposta que não vai conseguir honrar, o que complica ainda mais sua situação. “Todos estão mais maleáveis no momento de negociar, o que permite obter melhores acordos. Mas o ideal é tentar poupar o 13º, investir (para render), ou destinar uma parte para a realização de sonhos de curto prazo, que podem ser conquistados em até um ano, por exemplo”, comenta. Domingos não descarta o investimento em planos de médio prazo (de um a dez anos), ou de longo prazo (com prazo de realização acima de dez anos).
(2) Fazer as compras de fim de ano: também é comum que as pessoas utilizem o 13º salário para fazer as compras de final de ano, como os presentes ou os produtos para a ceia de Natal. “Não é uma escolha errada, principalmente para aliviar a tensão deste ano. Mas é importante que essas depesas sejam pensadas antecipadamente, inseridas no orçamento financeiro mensal ao longo do ano. Uma maneira de se organizar é escolher uma época do ano, geralmente o início, para fazer essa programação do orçamento. Assim, é possível poupar o 13º inteiramente para a realização dos sonhos”, sugere o presidente da Abefin.
(3) Poupar e investir: Domingos diz que algumas pessoas estão em uma ‘zona de conforto’, pois não têm dívidas, mas também não conseguem poupar. “A elas, faço um alerta, para que ajam com consciência, pois um passo em falso pode levá-los ao endividamento, e até à inadimplência, uma vez que não têm uma reserva financeira para se apoiar.”
Cada um pode usar o 13º salário como quiser e entender que é o melhor para si e para sua família. “No entanto, é importante guardar parte desse abono para começar a formar essa reserva. E quem já está acostumado a poupar, pode aproveitar o dinheiro a mais para ampliar seus investimentos”, finaliza o educador financeiro.