Sua última chance de assistir a uma das mais belas e sensíveis histórias disponíveis na Netflix – Zonatti Apps

Sua última chance de assistir a uma das mais belas e sensíveis histórias disponíveis na Netflix

“Somos Todos Iguais” é um doce e subestimado drama familiar de 2017, dirigido por Michael Carney, que mostra como a rotina da privilegiada família Hall é afetada pela presença de um novo amigo, um homem com um passado doloroso e que vive em uma realidade completamente diferente.

Baseado em uma história real, o filme narra parte da vida de Ron e Debbie, um casal de classe média alta, que tem dois filhos adolescentes e que trabalha com comércio internacional de obras de artes de alto valor. Apesar do estilo de vida luxuoso e aparentemente perfeito, Ron e Debbie passam por uma crise em seu casamento, após ela descobrir que o marido a está traindo.

Depois de alguns sonhos reveladores, Debbie começa a buscar um novo sentido para sua vida. É quando decide realizar um trabalho voluntário em uma entidade que ajuda moradores de rua com alimentos, roupas e qualquer outra coisa que ofereça o mínimo de dignidade.

Debbie arrasta Ron e os filhos para a obra, onde eles conhecem Denver, um homem agressivo e potencialmente perigoso. Ela acredita tê-lo visto em seus sonhos e crê que ele é uma espécie de enviado de Deus que irá transformar sua vida. Após algumas tentativas de aproximação, Denver finalmente dá abertura para contar sua história para Ron.

Conforme ele revela seu passado traumático e doloroso como órfão que trabalhou como escravo para um fazendeiro da Ku Klux Klan, na Louisiana, depois como detento de uma das prisões mais violentas do mundo, revelando crimes e atitudes que poderiam facilmente afastá-los, Denver se torna um grande amigo, mas mais que isso, une o casal em torno do objetivo de ajudá-lo a transformar sua vida. Aos poucos, o casamento de Ron e Debbie também é reconstruído.

A primeira impressão que o expectador pode ter é: mais uma história sobre brancos ricos privilegiados entediados que decidem ajudar alguns pobres para receber aplausos (e recebem, já que um filme foi feito para contar sua história). Poderia mesmo ser exatamente isso. No entanto, conforme o longa se desenrola e conhecemos o passado de Denver, que é bastante interessante, também somos incomodados por algumas verdades.

O mundo pode ser um lugar maravilhoso para muitos de nós, que usufruímos de alguns privilégios, mas, para outras pessoas, pode ser um verdadeiro inferno. É quase intragável traçar um comparativo entre a vida que a família Hall leva, morando em uma mansão recheada de móveis caros e obras de arte, enquanto a vida de Denver foi basicamente inteira uma tortura, sob as piores condições. É até compreensível que ele se sinta desajustado quando levado como hóspede para dentro da casa dos Hall.

Ser pobre faz com que as pessoas não se sintam pertencentes a alguns lugares, ou merecedoras de coisas melhores. Também faz com que você pense que nasceu para sofrer e este é seu único destino possível. Quando Ron leva Denver para um museu e ele vê a obra de Picasso “A Mulher Que Chora”, ele faz um comentário sobre como o artista teria desfigurado o rosto da mulher e depois o montado novamente com as peças todas bagunçadas, fazendo-nos enxergar ela de um jeito que não poderíamos se ela estivesse normal. Podemos enxerga-lá de dentro para fora. Ser pobre não torna ninguém menos sensível à arte ou às emoções ou até mesmo a dor física. Mesmo assim, são obrigados a viver em constante sofrimento, como se tivessem nascido mais resistentes.

O nome do filme é exatamente sobre isso, não sobre como os brancos, ricos e privilegiados são como todo o resto do mundo, mas como todo o resto do mundo é igual a eles. Igualmente merecedores, igualmente sensíveis às intempéries da vida, igualmente dignos de acesso à arte, educação, conforto e seja lá o que mais.


Filme: Somos Todos Iguais
Direção: Michael Carney
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 9/10

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