Alento. Na esmagadora maioria das vezes, é assim que qualquer torcedor, de time grande ou não, do Brasil ou do exterior, costuma encarar quando há troca de treinador. É como se um coquetel mágico, formado por esperança, felicidade e crença entrasse no racional da massa e transformasse os dias sombrios num horizonte de objetivos saborosos. E isso vale para qualquer contexto, não importando aqui se é Copa do Mundo ou campeonato estadual. E com a torcida rubro-verde, não é e não será diferente.
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No entanto, os lusos sabem que o caminho em direção à redenção nesse Paulista A-1 está longe de ser fácil. Com a saída de Mazola Jr. do comando técnico e a chegada de Gilson Kleina, a Portuguesa terá quatro dias para juntar os cacos de uma campanha risível até agora – para não dizer desastrosa – e mirar a permanência na primeira divisão.
Será difícil, todos sabem. Porque além de ter a pior defesa do campeonato paulista, o clube só venceu um jogo em cinco disputados, apesar de ter anotado seis gols, o que lhe dá o posto de terceiro melhor ataque do Paulistão. Ou seja, é um time construído no contrassenso, porque mesmo jogando cautelosamente não consegue segurar o adversário, quando seria o esperado, mas misteriosamente balança as redes deles, quando deveria ter mais dificuldade pelo simples fato de jogar recuado. Trocando em miúdos, um case.
Kleina sabe disso, como também entende que o imediatismo impera no mundo da bola. E até o jogo diante da Internacional de Limeira, no próximo domingo à noite, no Canindé, o novo técnico terá condições de ter dado algo como dez treinos, no máximo. Ou seja, experiente como é, sabe que os atalhos táticos é que vão lhe garantir uma boa estreia.
Sendo assim, não vou me surpreender se o básico for feito. Qual seja? Daniel Costa na articulação por dentro, Marzagão como titular ao lado de outros dois bons marcadores, e um ajuste no lado direito defensivo e ofensivo, porque Pará vai ficar de fora desse compromisso. Sem contar que não tomar gols estará na ordem do dia. Vai dar certo? Impossível responder a isso. Mas a tendência é que a Portuguesa marque melhor, seja mais consistente no combate e não jogue somente no contra-ataque. Proponha o jogo, ainda mais porque essa partida é decisiva para o futuro rubro-verde.
Vou mais longe. Também não ficarei surpreso se houver alteração na meta rubro-verde, mesmo sublinhando que Thomazella não teve culpa alguma em qualquer um dos nove gols tomados pela Portuguesa. Mas o treinador chegou para mudar, alterar a correnteza do rio, então, qualquer modificação será bem-vinda e vai precisar ser entendida pelo torcedor. E apesar de ter usado Thomazella como exemplo, penso que ele deva permanecer na titularidade.
Em outras palavras, imaginar uma Portuguesa com Thomazella ou Fernando Henrique na meta; três zagueiros, como Bruno Leonardo, Naldo e Victor Ramos; João Victor cobrindo pela direita, Marzagão, Tauã e Daniel Costa, além de alguém pelo lado esquerdo; e mais à frente Richard e Paraizo; a mim é até esperado. Não vejo como fora da curva em hipótese alguma.
A explicação é simples: três zagueiros para melhorar o sistema defensivo, que terá a marcação dura no meio de campo, com dois volantes, para liberar Daniel Costa, dono de bom passe e bola parada, que vai precisar de jogadores de velocidade à frente, como o jovem atacante Paraizo e Richard para que a construção por dentro funcione em campo. Como não terá Pará, João Victor, com a boa recuperação que tem, poderá funcionar como um ala. Dúvida mesmo recai em direção ao lado esquerdo, porque Thallyson não vem fazendo bons jogos, apesar de naturalmente poder ser escalado.
São conjecturas, calcadas na pergunta feita por mim na coletiva de imprensa de apresentação de Kleina nessa terça-feira, 31 de janeiro. O questionei sobre o fraco desempenho do sistema defensivo e ele respondeu, afirmando que uma boa defesa começa com todos se articulando para tal. Daí para um desenho com três zagueiros é um pulo e para posicionamento de marcação também. Certamente, os próximos treinos serão reveladores a respeito das tendências de jogo.
* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA