Ao se apaixonar por fotografia na infância observando seu pai fazer alguns trabalhos o italiano Riccardo Giovanni, engenheiro de formação, se aprofundou na profissão de fotógrafo, estudando por conta própria, buscando sempre se aperfeiçoar cada vez mais no que realmente o deixava feliz. Ele nunca imaginaria que após 20 anos de sua chegada a capital fluminense, estaria fazendo uma exposição de fotografia relacionada ao maior espetáculo da Terra, o carnaval. O trabalho pode ser visto na sede da Biblioteca Parque Centro, que fica na Avenida Presidente Vargas, 1261, sempre de segunda a sexta, de 10h às 17h.
Criador do site We Love Rio, Ricardo se apaixonou no primeiro dia que foi trabalhar na Sapucaí, ficou encantado com a beleza, movimentos, fantasias, cada detalhe o fez pensar que aquilo ali era preciso ser mostrado para o mundo, assim nasce a exposição, “O carnaval que ninguém vê: O encanto da arte fotográfica na Sapucaí”.
“A primeira vez que vi o carnaval daqui eu fiquei sem palavras, quando fui fotografar na avenida honestamente me senti despreparado, nunca tinha visto o carnaval de perto, daquela forma detalhes, todos os tipos de pessoas, movimentos a luz tudo era incrível e novo para mim”.
Pensando nestes aspectos Riccardo decidiu que iria retratar os desfiles de outra forma com outro tipo de olhar, para isso teria que tentar desenvolver técnicas para atribuir em seu trabalho. Como não era formado em jornalismo e nem tinha este olhar mais apurado para tal, decidiu dar um passo à frente e fazer algo a mais do que sua especialidade que era de captar os rostos e as impressões de cada pessoa que desfilava.
“Eu tive que me adaptar e tentar entender como eu faria essa minha ideia sair do papel e mostrar para todos o que meus olhos estavam vendo. Na minha experiencia pessoal, eu nunca tinha visto algo que detalhava e mostrava a parte da arte do carnaval. Quando falo arte, não é só a dança, as alegorias em si, mas os detalhes da costura, maquiagem e as próprias expressões. Se você for parar para ver uma foto são muitas informações de cores, detalhes que muita coisa passa despercebida. Nessa minha técnica eu simplifico as fotos, nunca mexo nas pessoas, eu nunca uso Photoshop. Elas são do mesmo jeito que aconteceram no momento, mas eu fotografo de uma forma que depois me permite tirar as cores que eu não quero e assim consigo detalhar cada parte da fantasia, as fotos têm uma tri dimensionalidade, o preto e branco realça cada modelo. Tudo tem que ser bem simplificado para cada detalhe aparecer. Como engenheiro costumo dizer se tem um problema muito grande, você divide eles em problemas menores, depois resolve cada um separadamente, no final estarão todos resolvidos, foi assim que fiz nas fotos, resolvi um de cada vez, está é minha técnica”.
Com um acervo de mais de 30 mil fotos ele já recebeu muitos convites para expor suas fotos fora do Brasil, porém seu desejo maior era fazer sua primeira exposição aqui no Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna (MAM), pois para Riccardo suas fotos expressam a arte das costureiras, aderecistas e desenhista que constroem cada fantasia e dão seu toque de beleza e luxo para esses desfiles.
“Tive convites dos Estados Unidos, México, Alemanha, entre outros. Mas meu desejo era que a minha primeira exposição fosse aqui no Brasil, no Rio de Janeiro que é onde tudo aconteceu na minha vida. Em meus pensamentos tinha que ser em um museu de arte, não queria que fosse no Museu do Carnaval ou do samba, queria mostrar e enfatizar o máximo possível o lado artístico. Algumas fotos aqui são do carnaval, mas poderiam não ser, se fosse vista fora do contexto que está montado aqui, você me diria que foi feita em um estúdio com a modelo pousando para mim. Se chegarem aqui e verem nessas fotos o desenho, a maquiagem, essa costura independentemente do desfile, vai ter chegado no patamar onde as pessoas só irão ver a arte do carnaval, agora sim vou dizer que meu trabalho foi feito e posso fazer em qualquer lugar”.
A exposição ficou por quatro dias no MAM, porém foi um grande sucesso até maior que o esperado, ao receber o convite da secretária estadual de Cultura, Danielle Barros, para expor na Biblioteca Parque Estadual, no Centro do Rio. Ele ficou surpreso e receoso, pois seu intuito era apenas mostrar essa visão diferente dos desfiles apesar de querer mostrar para todos, a repercussão positiva trouxe uma apreensão pelas reações das pessoas nesse novo lugar de exposição.
O maior desejo de Riccardo Giovanni é fazer o conjunto do trabalho dos maquiadores, costureiras, todas essas pessoas que fazem a arte acontecer serem reconhecidos, não apenas aqui no Rio no mundo do samba, mas que sejam referências e inspiração em escolas de artes e de moda por todo mundo. Pois este trabalho é feito pela maioria de pessoas de dentro da comunidade, muitas das vezes sem ter seu valor reconhecido pela sociedade, mas sem este trabalho e dedicação nada disso poderia ser feito. Para o fotógrafo, a beleza não pode apenas ficar escondida em uma semana de desfile.
“Cada consulado brasileiro deveria ter além das fotos do Cristo Redentor e do Presidente, algo que relacionasse a riqueza do Brasil, essas fotos, você não pode negar que retrata bem mais o brasileiro do que as outras expostas. Não existe fora do país fotos do carnaval, a não ser aquelas de mulheres seminuas, nada contra, mas não é assim que devemos ser visos lá fora, o carnaval ‘muito mais que isso é a arte na mais pura expressão”.