Para se fazer literatura é preciso sujar as mãos de lama e sangue, visto que prosa de ficção de gabinete entendia o Leitor de tal maneira, que, decerto, o obriga a abandonar o livro sem pudor ou hesitação. Logo, o romance (ou o conto) deve ser feito de paixão, intrigas, perfídia, reticências, pus e lágrimas. Destarte, a matéria-prima da literatura de ficção é o espanto orquestrado pelo autor, como se fosse uma sinfonia desenfreada sob a batuta da verossimilhança. Mas como o escritor deverá habilitar-se ao ofício literário?
Para início de diálogo, para se fazer literatura de ficção vem a ser necessário intentar-se ao inaudível da narração; e, neste contexto, a representação deve ser arquitetada no mapa-múndi da escrituração do narrador, do enredo, do espaço, do tempo e das personagens, que serão ferramentas da ação e/ou da reflexão. Neste sentido, a presente crônica se predispõe a delinear ao escrevinhador iniciante os sete passos básicos da produção literária, que se alicerça nos elementos teóricos dos estudos científicos, que abarcam o ofício da escrita.
Primeiro passo:
Após a definição do enredo (história), o escritor deverá decidir-se entre a narração em primeira ou terceira pessoa, ainda que ainda possa se utilizar da narrativa híbrida, a partir da seguinte definição autoral: qual a história do livro e como será contada ao Leitor?
Segundo passo:
Quando se define o enredo (história) e a voz narrativa, o autor já instituiu espontaneamente o espaço (lugar geográfico em que se passa a história); e o tempo da narração (ambiência cronológica do enredo), de modo que já se formulou a estrutura da obra de ficção, que pode até ser fragmentada, o que se configura como livro de contos.
Terceiro passo:
Neste momento da efabulação, é imprescindível definir o perfil das personagens. Após tal distinção entre protagonistas e secundários, torna-se cogente o cronograma de desenvolvimento das suas características físicas e psicológicas, aproximando-os da condição humana.
Quarto passo:
De porte dos cinco elementos da narração: narrador, enredo, tempo, espaço e personagens, o sexto fator essencial ao ato da criação literário vem a ser a acepção da linguagem, que será forjada pela narrativa a partir do direcionamento do discurso ao público leitor.
Quinto passo:
Neste ponto da escrita, cabe a seguinte indagação: a história será contada em ordem cronológica? Em caso contrário, é elementar decidir sobre a estratégia da narração, de acordo com o fluxo do encadeamento narrativo — início, meio e fim, embora o escritor possa se utilizar do recurso do flashback (ruptura da sequência temporal).
Sexto passo:
Neste estágio da criação, o escritor irá deliberar sobre a estruturação da obra literária; ou seja, se o discurso será subdivido por partes e capítulos, uma vez que é fundamental estabelecer o subterfúgio da divisão estrutural, como suporte para o armazenamento das ações/reflexões do enredo (história).
Sétimo passo:
De posse das informações delineadas, o autor deverá se munir de disciplina, concentração e resistência, para lidar com as intempéries da criação literária. Não obstante, o mais fundamental da prática da escritura vem a ser a organização das ideias, o que se caracteriza como concisão discursiva (clareza e fluidez), que se alia ao contexto da coerência (exclusão do contraditório não intencional); da coesão (emprego adequado dos conectivos); e do conhecimento gramatical (domínio da ortografia, concordância e regência).
Enfim, o ideal é recordar-se do conselho do poeta chileno Pablo Neruda, que nos diz que: “Escrever é fácil: começa com letra maiúscula e termina com ponto final. Depois, é só colocar a palavras no meio”.
Mãos à obra!…