Se você tem algum contato com o Metal, certamente já reparou ou pelo menos ouviu falar na influência clássica no gênero mais pesado da música. Há 30 anos, na Finlândia, um grupo de músicos teve a brilhante ideia de escancarar o quanto esses dois mundos se conectam — estamos falando, é claro, do Apocalyptica.
Famosa desde aquela época por suas covers de canções pesadas e emocionantes do Metal usando instrumentos clássicos, a banda nórdica conquistou tanto os corações dos metaleiros que resolveu se estabelecer de vez no gênero. Na caminhada, discos como o aclamado Worlds Collide (2007) ajudaram a consolidar a posição dos caras nesse mercado.
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Tendo lançado seu último disco de estúdio Cell-0 em 2020, o Apocalyptica dispensa apresentações. É uma porta de entrada para o mundo clássico chegar ao Metal, e também para os metaleiros entrarem na música clássica; mais do que uma “novidade” que tem graça, a banda se provou e conquistou até um grande hit com “I Don’t Care”.
Em 2023, o grupo volta ao Brasil, país onde tem grandes memórias, para um show especialíssimo. O Apocalyptica fechará o primeiro dia do Summer Breeze Festival, que estreia por aqui neste ano mas já tem muita história na Europa, com um show exclusivo para os fãs de música que garantirem o pacote Summer Lounge.
Antes de embarcar nessa vinda para o país, Eicca Toppinen conversou com o TMDQA! para relembrar esses momentos históricos da banda e, claro, relembrar histórias do Brasil. Confira o papo na íntegra abaixo e garanta seu ingresso para o Summer Breeze clicando aqui!
TMDQA! Entrevista Eicca Toppinen (Apocalyptica)
TMDQA!: Olá, Eicca! Como você está? Obrigado por tirar um tempo pra falar conosco. Você está na Finlândia agora?
Eicca Toppinen: Olá! Eu estou ótimo, e você? Estou na Noruega agora, mas sim, na Escandinávia. [risos]
TMDQA!: Justo! Eu estou bem também, obrigado por perguntar. Primeiramente, queria dizer que é um prazer fazer essa entrevista. O Apocalyptica foi uma das primeiras bandas que me fizeram ter contato com o Metal, e me lembro muito de ouvir vocês com minha mãe, o que acho incrível. Acho que vocês fazem um trabalho sensacional de abrir as portas do Metal pra muita gente, e a última passagem pelo Brasil veio justamente celebrar o disco de covers do Metallica que é tão importante pra isso. Então, nesses tempos mais recentes, como está sendo equilibrar tudo isso: os shows, as músicas originais, as covers que deixaram vocês famosos em primeiro lugar…?
Eicca: Bom, o tempo todo nós estamos fazendo aquilo que mais nos interessa. Então, é por isso que mudamos de estilo o tempo todo, por isso que sempre mudamos a nossa abordagem de como fazer música no sentido de tentar encontrar algo novo; a gente quer sempre sair da nossa zona de conforto, gostamos de nos desafiar a fazer algo que a gente ainda não sabe direito. Essa é uma das razões pelas quais fazemos tantas coisas, tipo discos de covers, músicas originais instrumentais, colaborações com diferentes vocalistas, e até um EP de música clássica. Nós gostamos de mudar isso, e descobrimos que agora, por conta das plataformas de streaming e esse novo mundo digital, nós de fato podemos fazer tudo isso ao mesmo tempo; tipo, nem tudo precisa ser colocado em um álbum, e aí o álbum ser lançado e todas as músicas meio que se encaixarem. Agora, a gente pode fazer um monte de coisas totalmente diferentes ao mesmo tempo, tipo, lançar músicas com vocal, lançar músicas clássicas, lançar covers, fazer outras originais…
E eu acho que isso é simplesmente divertido. É mais uma exploração do que simplesmente repetir o que já sabemos que conseguimos fazer. É algo que eu levo pra vida mesmo, acho que nós devemos continuar explorando, indo atrás de coisas novas, ao invés de se acomodar com o que já sabemos. Porque há tanto que nós não sabemos e é isso que torna a vida empolgante.
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TMDQA!: É, posso concordar com isso. Eu acho que talvez um dos grandes passos da carreira de vocês foi justamente o Worlds Collide, né? E já se passaram mais de 15 anos desde o lançamento desse disco, mas eu estava vendo o setlist dos shows mais recentes e ele continua sendo o mais tocado junto com as covers. Sinto que é um disco tão importante para o Metal como um todo. Depois de tanto tempo, como vocês olham para esse álbum? Ele mudou a trajetória de vocês enquanto banda, até no sentido das performances? Influenciou nessa coisa que você disse de simplesmente saber que vocês poderiam explorar várias direções diferentes ao mesmo tempo?
Eicca: Sim, você está certíssimo que foi um passo muito grande e importante pro Apocalyptica. Nós tínhamos acabado de assinar com uma gravadora nova, e o dono da gravadora era um executivo muito experiente e conhecido mundialmente, e ele tinha ótimas conexões. Ele é o empresário do Max Martin, por exemplo, então ele me colocou para escrever músicas com o Max Martin, que foi como surgiu “I Don’t Care”, por exemplo, que ainda é um grande hit. Foi também a primeira vez que estávamos trabalhando com um produtor renomado como o Jakob Hellinger, que já tinha produzido tantas bandas diferentes, então era um nível totalmente diferente do jogo; nosso jogo subiu de nível e nós tínhamos o grande foco de estourar nos EUA, e claro que isso influenciou um pouco no que estávamos fazendo e em como abordávamos as coisas, especialmente os vocais.
Sabe, nós trabalhamos com o Corey Taylor e com tantas outras pessoas legais e ótimas, e foi um processo de aprendizado tão grande para nós. E nós sempre quisemos encontrar o próximo passo, sabe? O que vem depois, como Podemos aumentar o nível, sempre. Então, realmente mudou o jogo abrir essa porta de trabalhar com as pessoas que são basicamente as melhores do mundo, os melhores engenheiros de som, os melhores engenheiros de mixagem, os melhores produtores, tudo isso. E quando você trabalha com alguém que é tão melhor ou mais experiente que você, você precisa subir de nível para acompanha-lo. Acho que foi aí que veio essa grande mudança, e foi isso que aconteceu com o Apocalyptica. Acho que foi super importante pra nossa jornada.
TMDQA!: Sim, faz todo sentido. Talvez eu esteja supondo coisas, mas eu tenho a impressão de que o Metal é muito parte da cultura finlandesa. Como você sente que o contexto do país em que vocês estavam e tudo mais influenciou vocês a encontrarem o Metal no meio desse caminho da música clássica?
Eicca: Eu acho que no meio dos anos 90 nós tínhamos um campo musical muito amplo e aberto. Na Finlândia, a nossa história é muito jovem, tanto na música clássica quanto culturalmente de forma geral, em termos de civilização mesmo. Nós não somos como a Europa Central, que tem essas coisas desde sempre; a Finlândia é uma nação jovem e talvez isso tenha sido um dos motivos pelos quais muita coisa estava acontecendo nessa época, incluindo toda essa colaboração entre estilos musicais diferentes. Acho que isso nos afetou para que nos sentíssemos livres para fazer o que quiséssemos, de certa forma.
Claro, havia muita gente que não nos aceitava no mundo clássico. Achavam que estávamos perdendo tempo, que estávamos arruinando nossa careira e blá, blá, blá, toda essa besteirada básica. Mas ao mesmo tempo havia também uma atmosfera de apoiar muito os artistas.
Pra mim, sempre foi sobre ter um pouco de anarquia. Talvez uma forma muito “segura” de anarquia, mas eu sempre quis questionar as coisas e as regras que não faziam sentido pra mim. Eu sempre lutei contra isso, desde que eu era bem pequeno. Então, provavelmente, isso era uma parte da minha expressão de que eu queria ser um pouco anarquista dentro de um instituto acadêmico, onde todo mundo era tão clássico. Mas acho que é isso que você disse também, do Metal ser tão grande na Finlândia, e até a nossa música tradicional é muito melancólica e sombria. Até as nossas canções de ninar!
As coisas que eu ouvia quando era criança eram terríveis, sabe. Até as canções de Natal são sombrias, se comparadas com outros países; todo mundo tem essas músicas felizes, tipo “Feliz Navidad” e tudo mais. E as músicas finlandesas são miseráveis pra caralho! [risos] Elas são tão sombrias.
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TMDQA!: Isso é bem legal! [risos] Engraçado você dizer que a comunidade clássica teve suas dúvidas em relação a vocês, porque eu sinto que a comunidade do Metal abraçou vocês desde o começo, né?
Eicca: Sim, foi exatamente isso. O público do Metal nos recebeu de braços totalmente abertos e foi incrível que a gente possa ter se sentido tão aceito. Porque, nos primeiros shows, a gente tinha muito medo! Era uma coisa tipo, “Que porra será que vai acontecer?”, sabe? A gente não sabia se eles iam jogar coisas na gente! E, de repente, eles estavam ficando malucos, fazendo stage dive e cantando as músicas junto e foi incrível a aceitação, ainda que houvesse, principalmente na mídia, uma coisa um pouco de “novidade”, sabe, tipo, algo que é legal por um tempo mas que ninguém sabe muito bem pra onde vai depois. Bom, aqui estamos. Estamos nos falando hoje, 30 anos depois. [risos]
TMDQA!: E sobre isso, nesses 30 anos vocês já vieram pro Brasil algumas vezes. Me conta algumas das suas memórias preferidas daqui!
Eicca: Acho que minha memória preferida do Brasil é a última vez que fomos, porque tocamos em outras cidades como Curitiba e Belo Horizonte, quatro ou cinco cidades no total. Foi bem legal ver algo além de São Paulo, que é muito legal mas, ao mesmo tempo, é meio que uma grande junção de tudo, é grande demais. É ótima, é bem legal, mas enfim… Eu lembro de um lugar, acho que foi em Curitiba, que era todo de vidro. Incrível.
TMDQA!: A Ópera de Arame! É lindo mesmo. A segunda coisa que eu queria perguntar é que, agora, vocês voltam pra tocar no festival Summer Breeze, que eu já ouvi falar muito sobre enquanto um dos grandes festivais da Europa. O quão significativo é tocar nessa edição de estreia por aqui? E, pelo que fiquei sabendo, vocês vão tocar em um palco super especial, com uma estrutura única.
Eicca: Pra ser sincero, eu não sabia de nada disso! [risos] Mas parece ótimo, eu estou bem empolgado. De forma geral, a gente não tocou em muitos festivais na América Latina. E estamos muito empolgados para tocar em um porque, sério, a energia que as pessoas têm no Brasil é insana. É insana. E eu estou simplesmente muito empolgado de ver o que acontece quando é algo como um festival mesmo, sabe?
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TMDQA!: E acho que vai ser um formato bem curioso. Não sei se já te contaram também, mas o show de vocês acontece em um palco exclusivo enquanto muitas pessoas estarão saindo do festival. Acho que é uma ótima forma de presentear essas pessoas, e de melhorar essa experiência de sair de um festival que costuma ser tão complicada…
Eicca: Vai ser interessante! Vamos ver quão cansadas as pessoas estarão. Será que já vão ter usado toda a energia ou ainda vai ter algo no tanque? [risos]
TMDQA!: Estamos falando do Brasil, cara. [risos] Sempre temos alguma energia sobrando!
Eicca: É verdade, tenho certeza que terão!
TMDQA!: Além de tudo isso, eu sei que o último lançamento de vocês foi a música “Rise Again”, com a Simone Simons. E ela vai estar no Summer Breeze também, né? No caso, vai ser só uma palestra, mas fiquei pensando se não tem nenhuma chance de rolar essa parceria no palco do festival…
Eicca: Não sabia disso também! Mas olha, é uma boa, é uma ótima. Preciso falar com ela. E eu vou vê-la em breve, quando continuamos com nossa turnê conjunta. Eu vou falar com ela!
TMDQA!: Legal! O pessoal do Brasil já sabe quem agradecer se isso rolar. [risos] E, pra fechar, a gente sempre gosta de trazer essa pergunta: você tem mais discos que amigos?
Eicca: Olha, essa é uma boa pergunta. Eu não sei quantos discos eu tenho, porque eles não estão aqui comigo. E, bom, o que são amigos? Eu acho que eu provavelmente tenho mais amigos do que discos, mas se estivermos falando de amigos próximos… aí definitivamente eu tenho muito mais discos. E, bom, se estivermos falando do meu telefone, eu tenho todos os discos do mundo! [risos] Mas, falando de discos físicos… acho que eu provavelmente tenho mais discos que amigos, sim.
TMDQA!: Demais, Eicca. Obrigado pelo seu tempo e pelo papo! Nos vemos em breve!
Eicca: Obrigado e nos vemos no Summer Breeze!
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