‘A Morte do Demônio – A Ascensão‘ chega aos cinemas nacionais dia 20 de Abril, e recebeu 96% de aprovação dos críticos no Rotten Tomatoes,. Ou seja: mais um sucesso da longeva franquia, que já tem mais de 40 anos.
Para celebrar o lançamento, decidimos relembrar cada um dos filmes da franquia.
A franquia Evil Dead – A Morte do Demônio tem extrema importância para o cerne do cinema de gênero. Nascida na década de 1980, época que cimentou o cinema entretenimento, Evil Dead teve vital relevância para o terror ao imprimir muita criatividade – tanto estética, quanto narrativa – no batido subgênero de “cabana na floresta”. Realizado a toque de caixa, como trabalho de conclusão de curso de cinema do diretor Sam Raimi, Evil Dead – A Morte do Demônio (1981) é um dos longas amadores mais profissionais da história da sétima arte.
Protagonizado por “não atores” – todos colegas do cineasta – o que chama atenção no filme é a vontade de fazer muito com pouco, o que termina por exigir mais de nós, deixando a criatividade correr solta. Evil Dead (1981) é melhor e mais assustador do que muitas produções de dezenas de milhões de dólares.
Evil Dead é simples e direto, e se revisitado hoje, pode causar estranheza e risos involuntários – sendo incluído inclusive na categoria de filmes trash. Confesso que da trilogia, este foi o último que assisti, justamente por ser o de mais difícil acesso (não hoje, é claro, mas durante a década de 1990 principalmente). Tive inclusive a oportunidade de conferir esta pequena pérola na sala de cinema – numa maratona de horror, na qual fazia uma sessão tripla com A Hora do Pesadelo (1984) e Poltergeist – O Fenômeno (1982).
Assim como em Alien – O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott, Ashley, ou Ash, como viria a ficar conhecido, só se revela o protagonista ao final, por dar sorte de permanecer vivo – mesmo que aos trancos e barrancos. Com dito, o que chama atenção é a inventividade das cenas e os artifícios usados como gore pela equipe – com muita massinha, borracha e gosma de todo tipo.
Sim, eu sei o que você está pensando. Cadê A Morte do Demônio no título e o que diabos é este Uma Noite Alucinante? Pois é, meu jovem, há muito que você não sabe sobre o período negro de traduções de títulos no Brasil – muitos diriam que se estende até hoje (O Âncora e Tudo por um Furo, alguém?). Seja como for este é o Evil Dead 2, continuação de A Morte do Demônio.
E se o primeiro Evil Dead passou em branco por ser um filme muito pequeno (só sendo conhecido em rodinhas cult), seis anos depois e com mais uma produção no currículo (Dois Heróis Bem Trapalhões, 1985 – com roteiro dos irmãos Coen), Raimi ganhou nova chance de revisitar sua querida obra numa espécie de refilmagem/continuação, na qual contou com orçamento muito mais folgado, e pôde deixar correr seu entusiasmo e estilo de filmar único.
Uma Noite Alucinante (1987) é uma sequência que conseguiu superar seu original, acrescentando muito à mistura – em especial humor e o nonsense. Ao ponto dos saudosos Gene Siskel e Roger Ebert, dois dos maiores críticos de cinema que já pisaram nesta Terra, e que não eram particularmente grandes entusiastas do gênero, darem o braço a torcer pela mistura saborosa que Raimi criou para seu filme. Ebert apontou inclusive semelhanças com clássicos musicais (na cena do cadáver dançando com a cabeça). Sim, o cinema de Raimi não se atém a um gênero e absorve influência de vários. É claro também que esta foi minha porta de entrada para o cinema do diretor e à franquia – quando foi exibido pela primeira vez num canal aberto (Globo). TV a cabo? Bem, isso é um luxo de hoje.
Uma Noite Alucinante (1987) não necessita de seu antecessor para a compreensão, já que os primeiros minutos recontam o original por inteiro, mas mesmo assim fez A Morte do Demônio (1981) se tornar mais conhecido. Esta sequência é o primeiro com esteroides: mais humor, mais efeitos, maquiagem melhor, mais ação, mais terror e mais gore.Ou seja, melhor em todos os quesitos.
A trama, como dito, reconta a chegada de Ash na cabana – desta vez inexplicavelmente com a namorada apenas (esquecendo os outros 3 personagens). Enquanto tenta sobreviver à insanidade instaurada – o que inclui cabeças de veados risonhas na parede e uma mão possuída no melhor estilo Família Addams – os verdadeiros donos da cabana chegam no local, iniciando “tremendas confusões”. Existem diversos momentos antológicos aqui, e há de se argumentar que este é o ponto alto da carreira do diretor (e isso é um baita elogio ao filme). Insanidade é a palavra de ordem e o título ‘alucinante’ não poderia ser mais certeiro.
Já sei, sim, mais uma vez a tradução é uma beleza. Onde está Uma Noite Alucinante 2, já que pula direto pro três? Vai saber.
A terceira parte, Uma Noite Alucinante 3 (Army of Darkness, 1992), não era muito pedida, já que o desfecho do predecessor surgiu como brincadeira – assim como no primeiro De Volta para o Futuro (1985). Mas assim como na superprodução de Robert Zemeckis, os produtores captaram a vontade do público, através do sucesso destes respectivos filmes, e se prontificaram a dar continuidade. Uma Noite Alucinante 3 é o longa de maior escopo e orçamento da trilogia, e o que mais se distanciou de elementos de terror – transformado mais em aventura medieval. O resultado, no entanto, ficou abaixo do esperado.
Aqui, seguindo o que foi mostrado ao encerramento da segunda parte, Ash volta no tempo para a idade média, através de um portal para outra dimensão. Mas ele não volta sozinho, e leva consigo todo tipo de demônio e criaturas. Ah, sim, não poderia esquecer de mencionar que no filme anterior, após ter sua mão possuída, ele a arranca com uma serra elétrica e coloca a máquina no lugar do membro. Simplesmente lindo. Sim, nosso herói tem uma mão de serra elétrica! Quantas vezes você viu isso? Bem, na época nenhuma.
No meio de cavaleiros, donzelas e castelos, chega este incorreto anti-herói, com armas de fogo e serras elétricas, assustando os habitantes tanto quanto as assombrações que trouxe. Aqui temos mais criatividade e homenagens, em especial às produções do eterno Ray Harryhausen, com seus efeitos práticos em stop motion, vide Jasão e o Velo de Ouro (1963), com as caveiras formando o exército do Evil Ash. Aqui a galhofa assume de vez, deixando o terror um pouco de lado.
É aqui também onde podemos sentir muitas das influências que serão levadas para a série Ash vs Evil Dead, 23 anos depois, como por exemplo, o egocentrismo canalha do protagonista e sua veia de mulherengo. Ou o fato de seu trabalho numa grande loja de departamentos ter sido mencionado pela primeira vez.
A refilmagem produzida por Raimi, levada num tom muito mais sóbrio e carregada na visceralidade, foi lançada em 2013. Ao mesmo tempo, falava-se em uma continuação para os filmes originais, antes mesmo do remake ser produzido. Na época do lançamento de Freddy vs Jason (2003), por exemplo, um forte boato tratava de colocar Ash no meio da batalha de gigantes. Obviamente, seja por qual motivo, estes desejos nunca chegaram a se concretizar. E a opção foi mesmo por algo mais sério, e voltado para o tipo de terror que os jovens apreciam atualmente – muito sangue, cenas fortes e explícitas, e uma atmosfera para lá de perturbadora. Quem papou a direção foi o uruguaio Fede Alvarez, graças ao Youtube, plataforma na qual postou seu curta Ataque de Pânico, que conquistou de imediato Sam Raimi.
O remake de A Morte do Demônio é interessante e têm qualidade, se mantendo fiel à trama. No entanto, dividiu o público e os fãs, que não reconheceram a atmosfera jocosa da série que tanto amavam. O chamariz do novo filme sem dúvida é Jane Levy, que vive a heroína da vez, Mia, e dá show no papel. Uma continuação para este filme era prometida, e inclusive a cena pós-créditos tratava de aguçar a curiosidade dos fãs, ao jogar como migalha uma aparição surpresa de Ash, o inconfundível Bruce Campbell – instigando o crossover. Algo também mencionado em boatos.
A mescla destes “universos” não saiu até o momento, e a continuação da trilogia clássica tampouco. Bem, ao menos no cinema. Ash vs Evil Dead foi a tão sonhada sequência, que os fãs sempre pediram, e Raimi sempre sonhou. Mas rumores apontam que um filme misturando todos esses universos ainda pode acontecer.
‘A Morte do Demônio – A Ascensão‘ é uma viagem pelo inferno, um pesadelo interminável. Aqueles que gostam de se assustar e ficar com o estômago embrulhado vão se deliciar. É um filme que sabe como te aterrorizar com cenas banhadas de sangue, mutilação, empalamento e todas as maneiras mais nojentas possíveis de se matar ou torturar pessoas.
A trama acompanha as irmãs Beth (Lily Sullivan) e Ellie (Alyssa Sutherland), que voltam a se unir após uma delas se separar do marido e a outra engravidar contra sua vontade. Enquanto passam um filme de semana juntas com os três filhos de Beth em um prédio prestes a ser demolido, um terremoto desenterra uma cópia do livro dos mortos, o Necronomicon Ex-Mortis.
É claro que uma das crianças vai liberar os demônios do livro após as palavras profanas serem ditas, e cada um deles será possuído das maneiras mais inusitadas e impactantes possíveis.
Enquanto enfrentam os próprios demônios, eles terão que sobreviver a uma noite de terror no meio da cidade – algo inédito na franquia que sempre ficou presa à uma cabana na floresta.
É incrível como o diretor Lee Cronin (‘The Hole in the Ground’) consegue explorar de maneira brilhante o ambiente doméstico claustrofóbico em que a história se desenrola, usando o apartamento para nos aprisionar junto com os protagonistas em seu pesadelo mais infernal, passando por um elevador desesperador até chegar no terceiro ato sangrento. E bota sanguento nisso, já que foram usados 6500 galões de sangue na produção.
Retornando como produtores, Sam Raimi e Bruce Campbell conseguem trazer novidades e um novo suspiro para a franquia, criando situações inimagináveis até para as mentes mais criativas de Hollywood. Você nunca mais vai ver um ralador da mesma maneira. O final é simplesmente grotesco, e vai deixar até os fãs mais inabalados de terror com nojo.
Com personagens extremamente bem desenvolvidos, ‘A Morte do Demônio – A Ascensão‘ tem um roteiro corajoso que não tem medo de matar seus protagonistas (o maior defeito de ‘Pânico 6’). Logo nos primeiros minutos você vai perceber que ninguém está à salvo, o que deixa tudo ainda mais realista e impactante.
Com apenas 1h37min, o filme mantém seu ritmo do início ao fim e não te deixa entediado. Mas não espere explicações, assim como os anteriores é extremamente niilista. Ainda que não seja tão maravilhoso quanto o remake de 2013, continua sendo uma ótima e assustadora adição à franquia.
O terror será lançado nos cinemas nacionais no dia 20 de abril.
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P.S. Evil Dead já virou inclusive um musical nos palcos, tamanha a sua abrangência.