Os sistemas de medicina tradicional, complementar e integrativa “são recursos valiosos para a humanidade”. Essa é uma das afirmações da Declaração de Gujarat, divulgada neste domingo.
O documento consolida as conclusões da primeira Cúpula Global de Medicina Tradicional da Organização Mundial da Saúde, OMS, que foi realizada no estado de Gujarat, na Índia, até 18 de agosto.
Superação de crises
Na condição de membro do grupo de conselheiros externos da OMS no tema, o médico brasileiro Ricardo Ghelman participou da organização do evento.
Em entrevista à ONU News no final de agosto, ele comentou a relevância da incorporação dessas técnicas nos sistemas de saúde.
“Estamos vivendo hoje uma crise de saúde mental, que não está sendo endereçada e bem atendida pelo modelo atual de medicina e de saúde como um todo. Estamos vivendo uma crise de resistência aos antibióticos. Essa terapia está perdendo a cada década efetividade e o apelo da OMS é do uso racional da antibioticoterapia, que a gente não tem conseguido fazer. A dependência ao corticoide em várias especialidades na área da saúde. O modelo centrado na doença. E o que está se propondo? Uma mudança que incorpora toda tecnologia e toda a metodologia das especialidades, ou seja, a gente não está falando de uma proposta por uma alternativa e sim de uma ampliação do cuidado, focado no paciente, na individualização.”
Aumento de evidências
A Cúpula foi realizada em paralelo à reunião de ministros da saúde do G20, grupo que reúne as maiores economias do planeta. Segundo Ghelman, todos os ministros participaram no encontro sobre medicina tradicional.
Ele afirmou que a Cúpula foi “um divisor de águas a nível global”, atingindo compromissos dessas economias de incorporar práticas da medicina tradicional, complementar e integrativa que sejam sustentadas por evidências.
Ghelman disse que existem cada vez mais estudos de alta qualidade sendo desenvolvidos para apoiar o uso dessas formas complementares de cuidado.
“Normalmente se faz a distinção de que esses modelos de cuidado são baseados em experiencia e a gente tem a medicina convencional, também chamada de científica. Eu acho que isso está mudando nos últimos 20 anos, se a gente olha a quantidade de pesquisa. Um exemplo fantástico é a meditação mindfullness, que hoje tem mais de 190 revisões sistemáticas, cada uma delas com estudos clínicos randomizados de alta qualidade.”
24 pontos de ação
Outro exemplo citado pelo médico refere-se a pesquisas em curso na Índia que encontraram “grande correlação” entre padrões genéticos e o sistema tradicional de diagnóstico da medicina ayurvédica, conhecido como tridosha.
Ghelman explicou que os 24 pontos da agenda de ação da Declaração de Gujarat tem como base o foco na prevenção e atenção primária, na saúde planetária e no bem-estar.
Outros temas de destaque são a integração de saberes indígenas, a melhora de leis e regulações, a equidade de acesso e a pesquisa focada em inovação e tecnologia.
Mais de 500 pessoas de 170 países participaram da Cúpula.