A música “Chico” da cantora Luísa Sonza e a discussão sobre outras abordagens para relacionamentos afetivos não-monogâmicos despertaram a curiosidade pela palavra monogamia em buscas na internet.
Dados do Google Trends mostram que, no mês de setembro, o termo atingiu o pico de pesquisas no Brasil, período que coincide com o momento em que Sonza lançou a música e, logo depois, anunciou o término do seu namoro.
Na canção, ela se declara para o então namorado Chico Moedas. “Diziam pra mim que essa moda passou / que monogamia é papo de doido/ mas pra mim é uma honra/ ser uma cafona pra esse povo.”
Além de ter ficado entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, a música ganhou mais reproduções depois que Sonza anunciou, no programa Mais Você, que seu relacionamento com Chico havia terminado devido a uma traição.
Para a psicóloga e sexóloga Ana Canosa, quando um caso de traição ganha repercussão, surgem dúvidas sobre relacionamentos afetivos que requerem exclusividade entre os parceiros. “Será que o contrato monogâmico é o contrato mais satisfatório? Será que a não-monogamia vai evitar que eu sofra uma infidelidade, por exemplo, ou que eu seja infiel ou traído?”, questiona ela.
As pesquisas relacionadas à monogamia se concentram em “o que é monogamia”, “não monogamia” e “relacionamento aberto”.
De acordo com reportagem do UOL, as buscas por não-monogamia aumentaram em 280% no Google nos últimos dois anos.
Segundo Jairo Bouer, psiquiatra e especialista em sexualidade, as pessoas estão tentando compreender quais são as possibilidades, extensões e implicações desses tipos de relacionamento.
Canosa afirma que, apesar de a notícia da traição ter contribuído para o aumento do interesse das pessoas pela palavra monogamia, o assunto não é novidade.
“A gente vem desconstruindo a ideia de que o amor está sempre ligado ao desejo e de que só podemos ter um amor na vida ou um amor de cada vez, e que devemos manter a exclusividade nas relações românticas”, afirma Canosa.
Bouer concorda com essa ideia e acrescenta que atualmente as discussões sobre alternativas à monogamia estão em alta porque há mais pessoas discutindo sobre isso nas redes sociais, falando sobre não-monogamia e outras possibilidades de relacionamento.
Geração Z gosta de exclusividade?
Relatório do Tinder de 2023 aponta que a maioria das pessoas entre 18 e 25 anos busca companheirismo, amizade ou encontros sem compromisso no aplicativo. Ao mesmo tempo, 64% desse grupo dizem gostar da satisfação emocional que um relacionamento proporciona.
Para Canosa, o interesse por relações não exclusivas está sendo deflagrado justamente pela geração Z (nascidos entre 1995 e 2010).
“É uma geração que tem mais dificuldade de estabelecer relações de compromisso, e que vive uma ambivalência entre querer alguém para ter conforto, mas, ao mesmo tempo, não quer abrir mão da sua liberdade. Então, é possível que a relação não-monogâmica seja para essa geração uma possibilidade mais concreta”, explica Canosa.
Glossários dos tipos de relacionamentos
Monogamia
É uma relação que estabelece exclusividade tanto afetiva quanto sexual entre duas pessoas, qualquer relação com terceiros é considerada infidelidade.
Não-monogamia
São relacionamentos que não exigem exclusividade entre os parceiros, seja no aspecto afetivo ou sexual, e se opõem à ideia da monogamia. Poliamor e relacionamento aberto são exemplos de não-monogamia.
Poliamor
Possibilidade de estabelecer mais de um vínculo afetivo e sexual, de forma concomitante, consensual e igualitária. Podem ser relações a dois, a três ou envolver grupos maiores
Relacionamento aberto
Permite sexo fora do casamento, desde que não haja envolvimento afetivo.
Swing
Prática em que o casal inclui, juntos, um ou mais casais na relação sexual.