Sue Clasen, 49, continuava tentando controlar sua apneia do sono. Ela sabia que uma máquina CPAP, equipamento que auxilia a evitar o ronco e impedir a obstrução das vias aéreas, a ajudaria a respirar durante a noite, mas nenhuma das máscaras usadas eram confortáveis o suficiente para realmente adormecer. Ela comprou um suporte especial para segurar a mangueira da máquina para não se enrolar nela e encontrou um travesseiro com recortes para acomodar a máscara. Algumas noites, ela acordava sentindo como se estivesse se afogando no ar que saía da máquina.
Clasen lembra de uma noite quando ela, seu marido e seus três filhos estavam compartilhando um quarto de hotel. A máscara do CPAP parecia volumosa e irritante —ela simplesmente não conseguia dormir com ela. Mas quando a tirou e adormeceu, seu marido logo a acordou: seu ronco, um sintoma comum da apneia do sono, estava tão alto que acordou todo o quarto.
Mas desde que Clasen começou a tomar Ozempic, em fevereiro de 2023, para perder peso, ela parou de roncar. Ela não precisa mais tirar cochilos durante o dia. Seus sintomas de apneia do sono desapareceram.
Mais americanos com apneia do sono obstrutiva, a forma mais comum do distúrbio, em breve poderão recorrer a medicamentos para perda de peso.
Dois importantes novos ensaios clínicos mostraram que a tirzepatida, que está na mesma classe de medicamentos que o Ozempic e é vendida comercialmente como Mounjaro e Zepbound, melhorou significativamente os sintomas da apneia do sono obstrutiva em pessoas com obesidade. Os resultados foram publicados na sexta (28), em um artigo na revista especializada Nejm (The New England Journal of Medicine), e apresentados em uma conferência da Associação Americana de Diabetes, em Orlando, na Flórida. A Eli Lilly, fabricante da tirzepatida, pediu à FDA (agência americana que regulamenta drogas e alimentos) a ampliação dos usos do Zepbound para incluir o tratamento da apneia do sono obstrutiva.
Se aprovado, ele se tornaria o primeiro medicamento especificamente autorizado para tratar a condição, e daria aos pacientes outra opção para gerenciar sua apneia do sono. Aqueles que já viram seus sintomas melhorarem após perder peso com medicamentos semelhantes dizem que o impacto foi transformador.
“Recuperei minha vida”, diz Clasen.
‘Uma busca intensa’
Milhões de adultos nos EUA têm apneia do sono obstrutiva, que ocorre quando a via aérea superior de alguém é bloqueada durante o sono. Em algumas pessoas, isso ocorre devido à anatomia de suas vias aéreas, pescoços, amígdalas, mandíbulas ou línguas. Em pacientes com obesidade, o problema subjacente é frequentemente o acúmulo de tecido adiposo na língua, pescoço e via aérea superior, disse Vivian Asare, diretora médica associada dos Centros de Medicina do Sono de Yale. Segundo algumas estimativas, 70% das pessoas com apneia do sono obstrutiva também têm obesidade.
Pessoas com a condição param brevemente e depois reiniciam a respiração enquanto dormem, o que as impede de descansar completamente. Em casos graves, isso pode acontecer centenas de vezes ao longo de uma noite.
A condição não apenas interrompe o sono. Se não tratada, a apneia do sono também aumenta o risco de insuficiência cardíaca, morte cardíaca súbita, diabetes, pressão alta e doenças neurodegenerativas, incluindo demência.
Clasen estava ciente desses riscos. Seu sogro teve um ataque cardíaco que seus médicos atribuíram à apneia do sono não tratada; ela continuava pensando nele enquanto tentava encontrar uma máscara CPAP que se encaixasse melhor.
“Eu sabia o quão sério era —eu estava tipo, OK, tenho que continuar, continuar tentando, vou acertar”, disse ela. “E eu simplesmente nunca acertei.”
As máquinas CPAP são o padrão-ouro de tratamento. Elas bombeiam ar pressurizado em uma máscara para manter a via aérea superior aberta. Muitos pacientes dizem que os dispositivos mudaram —e possivelmente salvaram— suas vidas. Mas muitos também relutam em usá-los: podem estar ansiosos sobre o que um parceiro de cama pensará ou preocupados que a máquina possa dificultar o sono. Alguns também foram afetados por chamadas de recolhimento, que são pedidos de devolução de um lote ou de determinados aparelhos feitos pelos fabricantes, generalizados de máquinas CPAP nos últimos anos.
Existem outras opções eficazes, mas menos populares, incluindo aparelhos orais, que puxam a língua ou a mandíbula para frente durante o sono para abrir as vias aéreas, e um implante cirúrgico, que estimula um nervo sob a língua. Os médicos também frequentemente recomendam que pacientes com obesidade percam peso para melhorar sua apneia do sono obstrutiva, embora isso possa ser desafiador para muitas pessoas.
Sigrid Veasey, especialista em medicina do sono na Escola de Medicina da Universidade de Pennsylvania (Penn University), disse que alguns de seus pacientes estavam tão desesperados por uma solução que costuraram bolas de tênis na parte de trás de suas camisas para evitar dormir de costas, o que piora o ronco. A busca por mais tratamentos para a apneia do sono tem sido “uma busca intensa por muito tempo”, disse ela.
É por isso que os especialistas em sono estão tão intrigados com os resultados dos novos estudos. Pessoas com apneia do sono moderada a grave que tomaram uma injeção semanal de tirzepatida tiveram menos interrupções na respiração ou períodos de respiração superficial e restrita durante o sono do que aqueles que tomaram um placebo. Em um estudo com cerca de 200 pessoas que já usavam máquinas CPAP, aqueles que tomaram tirzepatida experimentaram cerca de 30 eventos a menos por hora, em média, em comparação com seis eventos a menos por hora no grupo do placebo. Pacientes que não conseguiam ou não queriam usar CPAPs viram um benefício igualmente forte em outro estudo.
Os pesquisadores ainda não sabem se o medicamento pode beneficiar pessoas com casos menos graves de apneia do sono obstrutiva ou que não têm obesidade, explica Atul Malhotra, autor principal do novo artigo. Não está claro se a perda de peso sozinha melhorou os sintomas dos pacientes ou se o medicamento teve outros efeitos.
“Definitivamente a perda de peso ajuda”, disse Salma Batool-Anwar, especialista em sono no Hospital de Mulheres de Brigham, em Boston. “Mas isso realmente cura o problema? Essa é uma pergunta.”
A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, não está estudando se o medicamento poderia ajudar com a apneia do sono. Mas o composto no Ozempic e no Wegovy é muito semelhante à tirzepatida, e alguns pacientes descobriram que esses medicamentos ajudam em seus sintomas. Esse foi o caso de Denise Cohen, 69, que começou a tomar Ozempic em maio de 2022 para perder peso e melhorar sua apneia do sono.
Depois de cerca de um ano, ela percebeu que parou de morder a língua durante a noite, algo que costumava fazer com tanta frequência que deixava cicatrizes. E ela se sentia descansada o suficiente para aguentar longos turnos como enfermeira, sem cochilar em sua mesa todas as tardes. Eventualmente, ela parou de usar sua máquina CPAP completamente.
A máquina CPAP de Clasen agora está em uma prateleira em seu armário, acumulando poeira. Em um voo recente para Las Vegas, ela dormiu tão profundamente que o homem sentado ao seu lado brincou que ela parecia morta. “Tudo o que consigo pensar é que, se fosse há um ano, eu estaria roncando alto”, lembra.
E quando Clasen chegou, ela fez algo que não poderia ter imaginado quando sua apneia do sono era grave: dividiu um quarto de hotel com sua irmã. Ela dormiu tranquilamente a noite toda.
Este texto foi originalmente publicado no The New York Times.