Pode-se dizer que tenho o hábito de visitar piscinas públicas quando viajo. De Reykjavík e Sydney a Phoenix e Palm Springs, na Califórnia, é assim que ouço e observo a vida cotidiana, onde quer que eu esteja. No ano passado, em Tóquio, entrei no saguão de um complexo esportivo, peguei um lugar na fila de idosos e gesticulei com entusiasmo para conseguir um passe diário.
Depois da natação, segui as placas ilustradas e tomei uma ducha antes de ir para a jacuzzi. Uma japonesa, com uma auréola de cabelo branco, me deu um sorriso quando entrei. “Gosto da sua natação!”, disse ela, em inglês. Conversamos animadamente enquanto observávamos a aula de hidroginástica. Foi um dos destaques da minha estada no Japão.
Eu me lembrei disso outro dia enquanto estava cortando o cabelo com Noel Shabazian, meu cabeleireiro de longa data em Berkeley, na Califórnia. Ele mencionou uma viagem que estava prestes a ir a Little Rock, no Arkansas, para visitar os pais de sua namorada, e perguntei quais eram seus planos. “Ah, vou ao cabeleireiro. Sempre que vou a um lugar novo, gosto de ir a um salão local para um corte de cabelo e de barba. Nem digo que sou cabeleireiro –só gosto de ver como eles fazem”, disse ele, cortando meu cabelo.
Sempre pensei nas minhas visitas às piscinas públicas como uma coisa incomum, mas o ritual de ir ao salão de cabeleireiro de Noel me fez ver isso como uma maneira compartilhada de refletir sobre viagens, de experimentar o mundo. Nossos olhares se encontraram no espelho e sorri em reconhecimento.
Fugindo dos destaques
“Autêntico” é uma palavra muito usada atualmente quando se fala de viagens, mas acho que significa querer saber uma coisa verdadeira a respeito de um lugar e das pessoas que vivem ali. Com muita frequência, a visão de férias que nos é vendida envolve um itinerário predefinido e cheio de destaques, seguido por milhões de outros, prometendo ser incrível, revelador e novo!
E, ainda assim, poucas vezes é verdadeiramente surpreendente –já vimos tudo no Instagram ou no TikTok. Existem coisas a ser contadas quando o visitante participa de aspectos da vida cotidiana que não são especificamente desenhados para ele. É aí que está a surpresa.
Decidi perguntar às pessoas que viajam muito sobre as coisas do dia a dia que gostam de fazer quando estão na estrada –aquelas totalmente comuns que dão cor, textura e dimensão a um lugar.
Meu amigo Jon Natchez é músico e compositor. Quando está em turnê, faz questão de procurar mercados de produtos que o mantêm conectado ao local e à estação.
Ele se lembra de uma visita ao mercado Hunts Point Produce, no Bronx, em Nova York: “É um lugar rudimentar, de concreto, utilitário, onde todas as frutas perfeitas estão dispostas como joias. Eu sempre quis ir lá, e, de fato, não pude acreditar no frescor delas.”
Jon gosta sobretudo de experimentar frutas que nunca provou. “É incrível quanta especificidade pode ser encontrada em um mercado de produtos locais. Por exemplo, em uma cidadezinha inglesa, você vai encontrar todas as maçãs pequenas que foram colhidas nos pomares próximos.”
Roy Vella, pai de um amigo, vai a igrejas. Ele foi criado como católico, no Brooklyn (NY), e depois de adulto passou a frequentar a igreja de maneira mais esporádica, mas ultimamente assiste à missa quase todo dia. Quando viaja, encontrar uma igreja é parte do ritual; no fim de uma viagem, já está cumprimentando o pastor pelo nome e acenando para os frequentadores regulares da congregação.
Uma viagem marcante para Roy foi ao pequeno país insular de Malta, onde seus pais nasceram. “Malta é famosa por ter cerca de 365 igrejas –você praticamente pode ir a uma diferente a cada dia do ano. Muitos dos serviços são em maltês. Mas, mesmo que eu não fale o idioma, sei o que está se passando na missa.”
Encontrando um universo paralelo
Talvez seja pelo fato de que o sentimento de uma vida diferente da sua de repente se torna claro. Há um elemento inesperado, contrastando com o familiar. Um mergulho, um corte de cabelo, uma visita ao mercado, um serviço religioso: esses são momentos de rotinas que existem em um universo paralelo ao que você tem em casa. É nesse atrito que se dá a percepção do mundano ganhando um brilho novo.
Des Linden, campeã da Maratona de Boston, que participou de duas Olimpíadas e é recordista mundial de ultramaratona, é obcecada por cafeterias. “Uma xícara de café é uma ótima forma de conhecer um lugar”, observou ela. “Gosto do coado, porque é uma xícara lenta e prolongada. E prefiro as pequenas cafeterias especializadas, onde você pode sentar e conversar com os baristas. Assim, é mais do que só uma interação meramente comercial.” Ela revelou ter voltado com oito pacotes de café na bagagem.
Sam Clonts, chef e coproprietário do restaurante 63 Clinton, no Lower East Side de Manhattan, gosta de ir atrás de lojas de artigos culinários. “Uma loja de suprimentos para restaurantes lhe dá uma visão da história de uma cidade e da especialidade dos chefs de uma região”, comentou.
Já Lisa Morehouse, jornalista e apresentadora da série e podcast “California Foodways”, utiliza um aplicativo de ciência cidadã (eBird) para descobrir as aves avistadas recentemente, e, em seguida, planeja seu dia de acordo essas informações. A observação de pássaros a leva a parques que, se não fosse por isso, nunca visitaria, e também a interações com transeuntes curiosos que perguntam: “o que você está vendo?”
Ouvir as pessoas falarem sobre essas experiências cotidianas e como proporcionam uma visão da vida em outros lugares me faz lembrar por que amo viajar. Uma xícara de café, ou um pássaro que você nunca viu antes, pode oferecer um caminho inesperado para a descoberta. Em vez de observar passivamente, você se envolve tanto com um lugar que descobre uma verdade sobre ele.