Spas médicos viram destinos para comer e dormir melhor – 28/01/2025 – Equilíbrio – Zonatti Apps

Spas médicos viram destinos para comer e dormir melhor – 28/01/2025 – Equilíbrio

Ir a um spa para emagrecer? Não se trata mais apenas disso. As pessoas estão buscando esses locais para comer direito, recuperar o condicionamento físico, reduzir o estresse e a fadiga, lidar com a ansiedade e a depressão, cuidar de problemas gastrointestinais e até aprender a dormir melhor.

A meta é a busca por um equilíbrio do corpo, da mente e do espírito. Perder alguns quilos, quando desejado, acaba sendo consequência de uma série de autocuidados em saúde, e não o objetivo principal.

Em spas médicos como o Lapinha, no Paraná, o Kurotel, no Rio Grande do Sul, e o Rituaali, no Rio de Janeiro, pacientes se hospedam por dias (e até meses) para alcançar os objetivos.

No Lapinha, primeiro spa médico do Brasil, fundado em 1972, o hóspede passa por avaliação de fatores como má nutrição, estresse, sedentarismo e má qualidade do sono e recebe orientação individualizada de uma equipe multidisciplinar de médicos, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e enfermeiras. Também faz exames de sangue e de bioimpedância, método que estima a composição corporal por meio de parâmetros como a porcentagem de gordura corporal e massa muscular.

Instalado em uma fazenda de 550 hectares no município de Lapa (80 km de Curitiba), em meio a um bosque de araucárias e uma floresta de mata nativa, o local oferece semanas temáticas com foco em mudanças no estilo de vida e na prevenção de doenças.

A Folha participou entre os dias 5 e 11 de janeiro da semana voltada ao detox físico e mental. Todos ali seguem uma dieta ovolactovegetariana, adaptada para cada hóspede. As atividades começam a partir das 6h30, com uma caminhada por estradas rurais e bosques.

Aulas de ioga, de hidroginástica, de circuito funcional e de standup paddle fazem parte da lista. Também são oferecidas oficinas de culinária, de ikebanas, de jardinagem e momentos de meditação. Não há TV, e o sinal de celular é fraco. A internet é grátis, mas a ideia é se manter longe do mundo digital.

Um dos pilares do spa é a espiritualidade de inspiração cristã. As refeições são sempre precedidas de uma oração. Hóspedes de outras religiões ou ateus que não se sentem confortáveis em participar do ritual costumam esperar o término para se sentar às mesas. E tudo bem.

Segundo Margareth Novaes Brepohl, diretora de qualidade do Lapinha, no pós-pandemia, houve uma mudança no perfil de hóspedes. “A maioria tem vindo para se reencontrar, reaprender a dormir, a comer de forma mais saudável e para encontrar pessoas que buscam os mesmos valores na vida.”

A psicóloga Angela Zanardini, 43, de Curitiba (PR), conta que se deu de presente cinco dias no Lapinha como agradecimento por ter conseguido se livrar de medicamentos controlados para dormir, após 14 anos de uso contínuo. “Aqui é um lugar de paz e de conexão.”

Com ajuda médica, ela iniciou um desmame da medicação e, em outubro passado, parou de vez. “Passei a cuidar mais da alimentação, de atividade física, da parte espiritual, adotei técnicas para dormir melhor e muita psicoterapia e terapias alternativas. Hoje falo com orgulho: ‘sou uma ex-paciente psiquiátrica’.”

A chefe de cozinha Maria Marta Fragoso, 60, que vive em Paris (França), estava no Lapinha com a meta de não perder peso. Ela emagreceu muito após o diagnóstico de um linfoma de Hodgkin em estágio avançado, há sete anos. Passou por 43 sessões de quimioterapia e por um tratamento de imunoterapia.

“Aqui, me reconectei comigo mesma. Nunca tive vontade de adotar uma dieta mais natural, mais orgânica, menos cetogênica [com menos ingestão de gorduras e proteínas], mas agora pretendo incorporá-la.”

O Lapinha nasceu da iniciativa da brasileira descendente de alemães Margarida Bornschein Langer, que experimentou na Suíça os benefícios da medicina naturista e decidiu criar um centro para difundi-la.

Entre as premiações, já foi eleito como o melhor spa independente do mundo e também como mais sustentável pela World Spa & Wellness. O local é praticamente autossuficiente em energia limpa, gerada por placas solares.

“Os conceitos do Lapinha são uma tendência nas grandes redes mundiais de hotéis, resorts e spas de luxo. O Mandarin Oriental [rede hoteleira], por exemplo, introduziu um dia do silêncio”, diz Margareth Brepohl.

Segundo Dieter Brepohl, CEO do Lapinha e neto da fundadora, por anos o spa esteve sozinho na defesa da medicina naturista, que prega um cuidado integral das pessoas.

“A ciência veio a corroborar o que tínhamos como prática intuitiva empírica dos naturistas do século passado, que defendiam um olhar não fragmentado do ser humano, de tratá-lo como um todo, corpo, mente e espírito.”

Um estudo do Lapinha, apresentado no Congresso Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida, em outubro passado, demonstrou que a adoção de um programa baseado em dieta hipocalórica, atividade física supervisionada e terapias complementares reduziu em quase 20% os níveis de LDL (colesterol ruim) do grupo avaliado.

De acordo com o médico Daniel Boarim, diretor clínico do Lapinha, a instituição pretende seguir com outros projetos de pesquisa, a partir de um banco de dados de pacientes (com o consentimento informado deles), que demonstrem, objetivamente, o impacto das mudanças de estilo de vida na saúde.

“Subjetivamente, a gente sabe que impacta, as pessoas relatam que estão se sentindo muito melhor, com mais energia, disposição, um sono melhor, com mais controle de apetite. O desafio para muitos é como manter isso no dia a dia.”

O pacote de sete noites no Lapinha custa a partir de R$ 13,2 mil (individual) e os programas, a partir de R$ 2.550. Consultas extras, massagens, tratamentos estéticos e terapias corporais e faciais são pagos à parte das diárias. Massagens corporais, como a drenagem linfática, por exemplo, custam a partir de R$ 257.

Já o Kurotel, localizado em Gramado (RS), é outra referência internacional do setor em matérias de longevidade e saúde integral. O local se autodenomina como um “Centro Contemporâneo de Saúde e Bem-Estar”, e já levou reconhecimentos como o melhor centro médico das Américas pelo World Luxury Spa Award.

As técnicas usadas por lá se baseiam no chamado “Método Kur”, que tem como pilares a água, o movimento, o relaxamento, a alimentação e o equilíbrio.

O método foi criado pelo fundador do spa, o médico Luis Carlos Silveira, em 1971. Ao lado da esposa, fundou o Kurotel em 1982 com o objetivo de realizar uma abordagem de saúde que vê o paciente de forma integrada e o acompanha com equipes multidisciplinares e profissionais que se comunicam para entender linhas de tratamentos e debater desfechos.

“O Método Kur nasceu para ir além da medicina tradicional, com foco na prevenção, pois sempre acreditei que a chave para uma boa saúde é identificar e tratar problemas antes que se tornem graves”, diz Silveira.

Os hóspedes têm acesso a diversos tratamentos que usam a água como vetor, como pedilúvio e o manilúvio, que alteram imersões dos pés e das mãos em água quente e fria para promover vasoconstrição e vasodilatação. O Lapinha também oferece essa linha de tratamento.

São também oferecidas diferentes formas de atividade física, como ioga, natação, hidroginástica e caminhada, além de um centro de relaxamento que inclui massagens e outras opções terapêuticas, alimentação adaptada às necessidades do paciente e palestras e aulas sobre diversos assuntos, como culinária, gerenciamento do estresse e sessões para tirar dúvidas com os profissionais da casa.

O spa disponibiliza ainda experiências exclusivas, como o chamado “Circuito das Águas”. Nele, o paciente passa por uma piscina com hidromassagem em água gelada, seguido de um banho de banheira em água quente e, para finalizar, um banho de gelo. A técnica promove relaxamento.

Hóspedes procuram o Kurotel com objetivos mistos, frequentemente associando saúde mental e estética, segundo Mariela Silveira, diretora médica. Muitos querem um espaço para desestressar ou tratar a ansiedade e, ao mesmo tempo, perder peso.

“Essa combinação acaba sendo a mais prevalente. Sem dúvida, esse aspecto do estresse, da ansiedade e do burnout subiu mais nos últimos tempos. Muitas vezes estão relacionados, porque a pessoa se sentindo assim acaba comendo errado e tendo como consequência uma alteração do peso, além da questão metabólica.”

Na chegada, a pessoa passa por uma consulta com médico, psicólogo e nutricionista, além de fazer alguns exames clínicos, como de sangue, e Dexa, uma densitometria óssea que mostra a massa óssea, a gordura corporal e a quantidade de músculos.

A partir da primeira avaliação é elaborado o plano de atividades, que geralmente associa cuidados físicos, psicológicos e momentos de relaxamento. Ao fim de cada dia são entregues no quarto do hóspede a programação do dia seguinte, que pode ser modificada de acordo com a preferência.

Além de programas antiestresse e de emagrecimento, o espaço também oferece reabilitação física para pacientes oncológicos, com sequelas de Covid e que se recuperam de intervenções ortopédicas. O hóspede pode contratar a parte tratamentos com fisioterapeutas para esses casos.

Mariela explica que, nesses casos, as terapias do Kurotel são realizadas em parceria com os médicos responsáveis pelo tratamento do hóspede, observando todo o histórico clínico.

“Muitas vezes, as pessoas terminaram tratamentos ou cirurgias e recebem a alta hospitalar ou clínica, entretanto, a vida ainda não voltou ao normal. E poder oferecer um lugar onde vai haver essa fase de transição, com uma equipe transdisciplinar, até o paciente se sentir realmente com uma vida mais próxima a que ele vinha tendo antes, é muito reconfortante. A gente vê que nem sempre os hospitais conseguem endereçar isso”, diz.

O valor mínimo da diária no Kurotel é de R$ 3.100 Kurotel, além da taxa de serviço de 10%. Também é possível contratar exames, tratamentos médicos e terapias estéticas, como massagens modeladoras (R$ 445) e testes de alergia ou hipersensibilidade alimentar (R$ 5.578), além de checkup para identificar cânceres na mama, ovário, próstata, pâncreas e gástricos (R$ 5.342).

A maior parte dos hóspedes do Kurotel são paulistas e, pensando nisso, o spa médico começou a oferecer, em 2024, o chamado “Kur em Casa”, em que o paciente pode conhecer o método à distância, com consulta presencial com nutricionista, na capital paulista, e com os outros profissionais da clínica, por videoconferência.

Já no Rituaali, em Penedo (RJ), os hóspedes podem escolher programas de saúde e de bem-estar que incluem protocolos para controle de peso, contra ansiedade e estresse, antitabagismo e anti-insônia, entre outros. O spa oferece programas a partir de quatro diárias.

O local fica a cerca de 175 km do Rio de Janeiro e 270 km de São Paulo, numa área abraçada pelo Parque Nacional do Itatiaia. Nasceu há cerca de nove anos por iniciativa de Lorena Trindade como forma de repensar o caos da modernidade.

Assim como nos outros spas, no Rituaali o paciente passa por consultas médicas multidisciplinares e recebe um protocolo baseado em alimentação, exercício físico e sono. Também podem ser realizados exames e terapias, que são oferecidas de forma individual e em grupo. A alimentação, inclusa na reserva, é vegetariana e adaptada às necessidades dos hóspedes.

A atividade física, parte da rotina diária, é feita por meio de diversos métodos, como musculação, hidroginástica e aulas de dança, além de quadras de tênis à disposição.

O programa “+Saúde”, para quem deseja melhora na saúde como um todo, tem o mínimo de sete noites e custa a partir de R$ 15.923, já o “+Bem-Estar” fica em R$ 9.318 para o mesmo período.

A repórter Claudia Collucci viajou ao Lapinha a convite do spa; Victoria Damasceno também viajou ao Kurotel a convite do estabelecimento.

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