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Você já deve ter ouvido falar que “beber uma taça de vinho por dia faz bem para a saúde do coração”. Mas, de acordo com a ciência, isso não é verdade.
Não há uma dose segura de álcool, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e com estudos mais recentes.
↳ Na tentativa de calcular uma quantidade que não causaria danos à saúde, pesquisadores do Global Burden of Disease (GBD) concluiram que ela é, basicamente, zero.
A conclusão contraria estudos anteriores que diziam que pequenas doses de álcool poderiam ser fator de proteção para doenças cardiovasculares e diabetes. Tais pesquisas, de acordo com o psiquiatra Vitor Blazius, tinham erros metodológicos que levaram a associações incorretas.
Dizer que não existe uma dose segura, no entanto, não significa que beber menos não seja mais seguro, pontua Pedro Starzynski Bacchi, psiquiatra e coordenador de pesquisa do Programa de Mulheres Dependentes de Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (USP).
- “Quanto maior a quantidade de dose diária, maior o risco de desenvolver doenças, de incapacitação e de morte. Não existe dose segura, mas quanto menos beber, melhor.”
Para quem for consumir, a recomendação é de, no máximo, uma dose por dia para mulheres e duas doses por dia para homens, explica Bacchi.
- Uma dose equivale a 14 gramas de álcool: uma cerveja (350ml) ou uma taça de vinho (150ml) ou uma dose de destilado (45ml).
Esses valores não são consenso nas diretrizes de todos os países. No Canadá, por exemplo, o limite é de duas doses por semana.
Há mais consenso quando falamos em uso abusivo, explica Blazius: mais do que quatro doses para mulheres e cinco doses para homens numa única ocasião.
“Se uma pessoa beber uma taça de vinho uma vez por semana, a chance de ter um problema por causa disso é muito baixa, se ela não tiver outras condições de saúde. Agora, beber ao longo de anos, mais vezes por semana, começa a ser muito mais relevante”, diz o psiquiatra.
Os riscos à saúde são muitos. O consumo de bebida alcóolica mata 12 pessoas por hora no Brasil, de acordo com um estudo recente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Algumas das doenças associadas ao álcool são: as hepáticas (fígado), as cardiovasculares, as gástricas, cânceres (de cólon, mama, fígado, esôfago, garganta…), pancreatites e diabetes. Além de questões de saúde mental, como depressão e ansiedade.
O consumo também leva a atitudes e ações que podem causar danos, como acidentes de trânsito, comportamento sexual de risco e violência, complementa Bacchi.
Veja, então, dicas para quem quer reduzir ou repensar a quantidade de álcool que ingere:
1. Reflita sobre seu padrão de consumo
Em quais ocasiões a bebida realmente tem uma função importante? E em quais não talvez não tenha? Ter essa visão mais crítica é importante, de acordo com Bacchi.
↳ Você não precisa abrir mão da taça de champanhe no Natal, mas pode deixar de lado a bebida no final de um dia puxado.
“Entenda se seu consumo tem um padrão sociocultural ou se é, por exemplo, uma forma de lidar com estresse ou ansiedade. Nesse caso, pode haver uma outra atividade que cumpra essa função”, orienta o pesquisador da USP.
2. Vai beber? Planeje-se
Tem uma festa no fim de semana? Tenha um planejamento em mente, caso queira beber menos do que está acostumado. Bacchi lista três pontos:
- Hidratação: uma dose, uma garrafa de água. “A ideia de que a água contrapõe ao efeito do álcool é um mito. Ela faz com que você tenha o efeito sem se desidratar, de uma forma menos tóxica”, explica o psiquiatra.
- Alimentação: nunca beba de barriga vazia. Comer algo com gordura —castanhas, abacate, salmão etc— antes ajuda a diminuir a velocidade de absorção do álcool.
- Metas: use métricas de tempo para reduzir a quantidade. Por exemplo: vou beber uma cerveja a cada X tempo.
3. Compartilhe com as pessoas
Fale para seus amigos ou familiares que você está tentando beber menos. Alguns podem não entender, mas ter o suporte de quem está próximo ajuda.
4. Tente ficar duas ou três semanas sem beber
É um bom começo para quem quer zerar a bebida e um ótimo teste para quem quer reduzir o consumo. Isso porque a substância tem um efeito cumulativo que geralmente não é percebido, explica Bacchi.
Como o efeito agudo do álcool —a ressaca, por exemplo— passa depois de um ou dois dias, as pessoas tendem a voltar a beber no final de semana seguinte.
“Se você fica mais tempo sem usar, como três semanas ou um mês, você volta para um padrão de cognição e de saúde mental que é diferente do que nesses ciclos de fim de semana”, diz o psiquiatra.
5. Busque ajuda
“Quando algum problema envolve o álcool, na maior parte das vezes o problema é o álcool”, diz Blazius. “Por exemplo: se um casamento vai mal e tem álcool envolvido, as chances dele ser o problema são muito grandes.”
E não é preciso esperar que algo grave aconteça. Se quiser beber menos, mas sentir muita dificuldade no processo, um médico psiquiatra ou um psicólogo podem ajudar.